Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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Textos
Saudades de minha filha Hortência e o dia que marcou para sempre.
O Amor de Um Pai: A História de Hortência
Já não seria mais possível contemplar o teu sorriso. Na noite anterior, ouvi você tentando pronunciar, por detrás daquela máscara, a palavra "papai". Ainda era pequena e mal podia soletrar. Ah! Se eu pudesse te abraçar naquela hora e arrancar tudo aquilo que te impedia de respirar. Só pude chorar enquanto você lutava por ar.

Era noite e um pequeno frio começava a cair sobre a querida Nioaque. Lembro-me de correr pelas ruas da cidade, tentando esconder de mim a dor, enquanto a ambulância seguia em velocidade, buscando socorro para salvar sua vida. O tempo passa, mas não consigo esquecer aquela manhã de 3 de junho. Ao chegar no trabalho, minha chefe e meus amigos me chamaram para uma salinha fechada, e o que eu não esperava chegou sem ser convidado. “Sua filhinha Hortência seguiu para outra morada”.

Só quem conhece essa história pode sempre contar, pois, quando minha filha voltou, já não pude mais abraçar. Chorei ao lado de minha esposa, chorei ao lado de meus pais, perguntei pelos outros filhos que não pude avistar. Disseram que meus filhos não poderiam ficar durante o funeral. Sem entender o porquê, comecei a perguntar, mas ninguém dava resposta a um pai e uma mãe que choravam por uma filha.

O fim da tarde caía e seguimos para o cemitério. Ao ver lançarem terra sobre minha filha querida, desesperado, gritei. Fui amparado por meu irmão mais velho, que simplesmente dizia: “Não chores por ela, maninho. Mesmo morta, está pertinho de ti. Chore pelos outros cinco que a justiça levou.”

Trabalhava dia e noite para sustentar meus filhos. Era do trabalho para a igreja e da igreja para o meu lar. Mesmo assim, paguei o preço. Por pura maldade, me deram um atestado que dizia que minha pequena Hortência tinha morrido de desnutrição generalizada. Sofri por muitos dias e, mesmo sendo evangélico, não encontrava consolo. Só me restava chorar ao lado da sepultura da minha filha querida, pois os outros eu não podia abraçar.

Até que, certo dia, saí a caminhar, entre lágrimas e dores, sem uma palavra a dizer. De Nioaque para Jardim, era meu destino seguir. Só voltaria para casa se pudesse buscar meus filhos. A noite se aproximava quando, de repente, um veículo parou à beira da estrada. Eram amigos que voltavam do curso de enfermagem e que trabalhavam comigo na Secretaria de Saúde. Me abraçaram e insistiram para me levar de volta. Foram eles que, com o apoio de uma advogada, me ajudaram a buscar meus filhinhos.

Agradeço a Deus porque conseguimos provar que aquele documento estava errado e era apenas uma armadilha daqueles que, sem piedade, queriam nos prejudicar. Hoje, uma data que nunca passa em branco, são eternas as saudades da minha filha querida, que na cidade de Nioaque dorme para sempre o sono da eternidade.

Hortência, o papai vai sempre te amar.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/06/2023
Alterado em 19/06/2024
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