Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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A Lua Foi Testemunha
A fazenda era vasta, de um verde que parecia não ter fim. Ao longe, os pássaros cantavam, e o cheiro de terra molhada misturava-se ao som do gado. Era ali que ela vivia, protegida pelo rigor do pai e pela sombra vigilante de sua mãe. Quando ele chegou, tudo mudou. Um rapaz simples, com olhos que pareciam carregar o brilho do céu, e mãos calejadas pelo trabalho de vaqueiro. Sua presença trouxe inquietude ao coração dela, uma jovem acostumada à solidão de sua posição.

Do alpendre da casa, ela o via. A cada passada firme do rapaz, seu coração saltava. Sua mãe percebeu cedo o que estava por vir e, temendo pelo futuro da filha, avisou:
— Se teu pai souber disso, haverá punição severa. Um peão e uma fazendeira não têm futuro juntos.

Os dias passaram, e ela encontrava formas de vê-lo, mesmo que à distância. Com a ajuda da doméstica, ela sempre descobria onde ele estaria. Um dia, tomada por coragem e saudade, deixou cair um bilhete perto do galpão dos arreios, local onde sabia que ele passaria. No bilhete, confessava o que as palavras não ousavam dizer: o amor que florescera em silêncio.

Ele encontrou o bilhete e, ao ler as linhas escritas com tanto sentimento, sentiu o peito apertar. Sabia que o amor entre eles era impossível, mas seu coração já estava perdido. O fazendeiro, porém, descobriu tudo. A doméstica, na tentativa de ganhar a confiança do patrão, revelou o segredo.

Quando o fazendeiro encontrou o bilhete em suas mãos, sua raiva foi imensa. Ela foi castigada, as lágrimas de sua mãe nada puderam fazer para conter os açoites. A doméstica foi despedida, traída pela própria ganância, mas o estrago já estava feito. Ele, com a dignidade de quem sabia que seu único erro foi amar, arrumou suas coisas e deixou a fazenda.

Antes de partir, porém, conseguiu sussurrar para ela:
— Me espere, eu vou voltar.

Ele cavalgou pela noite, sua mente cheia de dúvidas e promessas. Embaixo de uma árvore, pediu forças ao céu e ao crucifixo em seu peito para enfrentar o destino. Enquanto isso, ela chorava no quarto, sua alma dividida entre a dor e a esperança.

Naquela noite, quando a lua estava alta e os pais adormeceram, ela tomou sua decisão. Com o coração acelerado, fugiu pela janela, guiada pela luz das estrelas. Na garupa do cavalo dele, encontrou a liberdade que tanto sonhara. Quando os cães da fazenda começaram a latir, já era tarde. Dois corações haviam se unido no galope de um amor que nem mesmo as amarras da sociedade puderam impedir.

E na vastidão daquela terra iluminada pela lua, eles partiram, deixando para trás a fazenda que os separou. O vento parecia sussurrar uma promessa: o amor deles enfrentaria qualquer tempestade. E assim foi.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 18/12/2024
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