Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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Entre Flores e Eternidade
Marcos sempre dizia que o amor tinha cheiro de jasmim. Era ali, no pequeno jardim da casa, que ele e Alice passavam as tardes sonhando sobre o futuro, rindo das manias um do outro e, mais recentemente, celebrando o milagre da vida. Alice estava grávida de cinco meses, e a cada dia que a barriga crescia, crescia também a alegria nos olhos dela.
Com a câmera fotográfica em mãos, Marcos registrava cada momento. “Sorria, meu amor, o mundo precisa ver como você está linda,” dizia ele, encantado. Alice ria, com aquela leveza que apenas o amor genuíno consegue criar, e posava entre as flores, abraçando o ventre onde o pequeno Gabriel – já batizado nos sonhos do casal – esperava o momento certo para vir ao mundo.
As fotos se acumulavam no celular e no coração de Marcos, que sonhava com o dia em que mostraria tudo aquilo ao filho. “Olha, Gabriel, aqui está sua mãe, tão linda e tão feliz, esperando você chegar.”
Era uma rotina simples, mas plena. O jardim parecia um pedaço de paraíso, e a felicidade do casal era quase palpável. Cada olhar trocado, cada plano para o futuro, era um tijolo na construção de uma vida que prometia ser cheia de luz.
Naquela manhã de sábado, enquanto Alice ajeitava as flores para mais uma sessão de fotos, Marcos precisou sair. “Volto rápido, amor. Quero pegar o pôr do sol com você e o Gabriel.” Ele beijou a testa dela e acariciou a barriga com ternura antes de entrar no carro.
Mas a vida, com sua imprevisível crueldade, tinha outros planos.
O telefone tocou horas depois. Alice, ao atender, sentiu o chão desaparecer sob seus pés. Um acidente, disseram. Fatal. Marcos não voltaria para casa.
No jardim, as flores continuavam a balançar ao vento, como se não soubessem que uma parte do mundo havia acabado. Alice caiu de joelhos ali mesmo, sentindo o vazio se alastrar. Abraçou a barriga, agora a única conexão física com o homem que tanto amara.
Os meses seguintes foram difíceis. Alice chorava em silêncio, mas fazia questão de continuar registrando momentos no jardim, agora para que Gabriel tivesse algo de seu pai. E foi assim, entre lágrimas e saudade, que ela deu à luz.
Gabriel nasceu com os olhos de Marcos e, com ele, veio uma nova força. Alice sabia que Marcos viveria nas risadas do filho, nos olhares curiosos e nos sonhos que ele construiria.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 18/12/2024
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