Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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Testemunhas do meu Pecado
Era uma noite sem lua, e a cidade parecia adormecida. O vento frio cortava as ruas desertas, e Thiago caminhava com passos pesados, seu coração em conflito. A cada passo, ele se lembrava do que havia feito. Não do que queria, mas do que a vida o obrigara a fazer.

Quando a porta de casa se abriu, ele encontrou os olhos tristes de Maria, sua esposa, e o olhar inocente do filho, Rodrigo. Os dois estavam sentados à mesa, esperando, como sempre, pela sua volta. Eles não sabiam, nem imaginavam o peso da culpa que Thiago carregava.

Maria olhou para ele, mas não disse nada. O silêncio entre eles parecia mais doloroso do que qualquer palavra poderia ser. Ela não precisava perguntar; ela sabia. Sabia que ele não estava ali apenas por causa do trabalho que, mais uma vez, não havia dado certo. Ela sabia que ele carregava algo mais.

Rodrigo, com seus seis anos, correu até o pai e o abraçou. O abraço apertado fez Thiago sentir um aperto no peito. Como ele podia olhar para aquele menino e, em sua mente, ver um futuro de promessas quebradas? Aquele abraço inocente e cheio de amor era a maior acusação que ele poderia receber.

Thiago sentou-se na cadeira de madeira, olhando para as mãos. Elas estavam sujas, e ele sabia disso. Não importava o quanto ele tentasse limpar, a mancha daquele dia não sairia.

Maria quebrou o silêncio. "Onde você estava, Thiago? O que aconteceu hoje? De novo?"

Ele não podia mentir, não mais. Fez uma pausa, engolindo a vergonha, e então disse, com a voz abafada pela culpa, "Fui até a loja, Maria. Não... não tinha outra opção. Eu vi o olhar de Rodrigo, vi a fome nos olhos dele, e eu... eu não consegui mais resistir."

Maria olhou fixamente para ele, como se buscasse em seus olhos uma resposta que fizesse sentido. Mas, ao invés disso, ela viu o vazio. Viu o homem que um dia havia jurado ser forte, e que agora se entregava a um erro. Ela baixou os olhos, e suas palavras saíram baixas, quase imperceptíveis: "Você furtou? Para nós?"

Thiago não conseguiu encará-la. Ele assentiu com a cabeça, e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. Ele não podia pedir perdão, porque sabia que as palavras não eram suficientes. O pecado estava ali, diante deles, e a vergonha era mais pesada que qualquer castigo.

Rodrigo, sem entender o que acontecia, olhou para o pai e perguntou com a ingenuidade de uma criança: "Pai, por que você está chorando?"

Thiago se agachou e puxou o filho para seus braços. "Não é nada, filho. Só... só estou pensando no que fiz, e me arrependo muito."

Maria se levantou e foi até a cozinha. O som da panela sendo colocada sobre o fogão ecoou na sala silenciosa. Ela não sabia mais o que dizer. O que ela poderia dizer? Ela sabia que a dor de Thiago era maior do que qualquer palavra que pudesse ser dita. Ela também sabia que a dor que ele causava a ela e ao filho, o peso do pecado que ele cometeu, seria uma cicatriz difícil de curar.

Thiago levantou-se lentamente, deixando Rodrigo adormecer no sofá. Ele foi até a janela e olhou para o luar. A cidade estava silenciosa, mas dentro dele havia uma tempestade. Ele se sentia como o único homem no mundo, perdido e sem rumo. Cada ação, cada passo, parecia um eco de sua culpa.

Ele sabia que tinha testemunhas do seu pecado. Maria e Rodrigo eram as maiores, mas também eram as mais amorosas. Eles viam além de suas falhas, além do erro que ele cometeu. E, por mais que fosse difícil de aceitar, talvez fosse a única chance que ele teria de se redimir.

Quando a noite se estendeu, Thiago fez uma promessa a si mesmo, ainda que sem saber como cumpri-la. Ele não sabia o que o futuro reservaria, mas sabia que teria que lutar para ser o homem que sua família merecia. Talvez o perdão não viesse fácil, mas ele estava disposto a tentar.

E assim, naquela noite silenciosa, Thiago sentiu o peso de seu pecado, mas também o peso de seu amor. E ele sabia que, enquanto houvesse amor, haveria esperança.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/01/2025
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