Lágrimas na Sepultura
A tarde estava cinza, com nuvens pesadas que ameaçavam a chuva. O vento frio sussurrava entre as árvores do cemitério, balançando levemente as folhas secas espalhadas pelo chão. Dona Helena estava ali, sozinha, com os olhos fixos na pedra fria que marcava a sepultura de seu filho. O som de seus passos ecoava entre os túmulos, mas ela não ouvia. Seus ouvidos estavam em outro lugar, distantes, perdidos na dor que a consumia.
Ela havia perdido o filho. Não por doença, não por acidente. Ele foi tirado dela por mãos cruéis. As mesmas mãos que, talvez, já tivessem destruído outras vidas. Ela sabia disso, mas não queria pensar no ódio, na violência. Queria lembrar de Lucas como ele era, com seus olhos brilhantes e o sorriso que fazia a todos ao redor se sentirem mais leves. Mas agora, ele estava ali, enterrado, com a vida interrompida de forma brutal.
Ela se ajoelhou lentamente diante da sepultura, sentindo o peso do mundo sobre seus ombros. Suas mãos tremiam enquanto tocavam a terra fria. As lágrimas caíam sem cessar, sem aviso, como se o próprio coração tivesse decidido derramá-las. Cada gota era uma dor. Cada lágrima, um grito silencioso de desespero.
O vento parecia se intensificar, como se o mundo estivesse lamentando com ela. Dona Helena enxugou o rosto com as mãos, mas logo as lágrimas voltaram a cair. Ela olhou para o nome gravado na pedra e, por um momento, se viu como a mulher que ela não queria ser. A mulher que enterrava o filho, enquanto todos os outros davam continuidade às suas vidas. Ela pensou em todos os sonhos que ele não poderia mais realizar, nas viagens que ele nunca faria, no amor que ele nunca mais compartilharia.
Ela fechou os olhos por um momento e, com a voz embargada, falou baixinho, como se estivesse conversando com ele.
Meu filho, por que isso teve que acontecer? O que eu fiz de errado? Por que eu não pude te proteger?
Um homem se aproximou de dona Helena, seu semblante sério e compadecido. Ele era um amigo de Lucas, alguém que também sentia a dor da perda, mas que tentava disfarçar a angústia. Ele parou a alguns metros de distância e, hesitante, começou a falar.
Helena, eu sei que nada do que eu diga vai aliviar essa dor. Mas eu queria que soubesse que Lucas era um bom rapaz. Ele... ele não merecia isso. Nenhum de nós merecia.
Dona Helena levantou a cabeça e o olhou com um olhar vazio, mas agradecido. Ela não queria ouvir palavras vazias, mas, ao mesmo tempo, precisava delas para suportar um pouco do peso da dor.
Eu sei, disse ela, com a voz fraca. - Eu sei que ele não merecia. Mas o que eu posso fazer agora? Ele se foi, e nada vai trazer ele de volta.
O homem tentou se aproximar um pouco mais, mas respeitava a distância que ela impunha, ainda que sem querer. Ele olhou para o túmulo de Lucas e, com um suspiro, falou com pesar.
Não podemos mudar o que aconteceu, mas podemos continuar a lutar por justiça. Não podemos deixar que ele morra em vão.
Dona Helena balançou a cabeça lentamente. A justiça parecia uma palavra distante, distante como o futuro sem seu filho. Justiça, ela repetiu, como um eco de uma esperança que parecia impossível de alcançar.
Você acha que alguma coisa vai mudar? Eles vão apenas continuar... matando. E ninguém vai fazer nada. O que mais eu posso esperar?
O homem se calou, sentindo o peso daquelas palavras. Ele sabia que, naquele momento, nada mais poderia ser dito. Dona Helena estava em um lugar de dor tão profundo que qualquer palavra parecia ser um insulto. E, por isso, ele não falou mais nada.
A chuva finalmente começou a cair, leve a princípio, como se fosse apenas uma suavidade. Mas logo os pingos se tornaram mais fortes, como se o céu também chorasse pela perda de Lucas. Dona Helena permaneceu ali, de olhos fechados, sentindo a água misturada às lágrimas. A dor não ia embora. Mas, pelo menos, naquele momento, ela não estava sozinha.
Aos poucos, as pessoas começaram a se afastar. O cemitério estava novamente quieto. Dona Helena ficou ali, por um tempo que parecia eterno, olhando para a sepultura de seu filho. A chuva continuava a cair, lavando a terra, mas não curando a dor que estava em seu coração. A dor de uma mãe que viu seu filho ser tirado dela de uma forma cruel, e que agora só restava a saudade.
Ela levantou-se lentamente, como se cada movimento fosse uma luta contra o peso da dor. Olhou uma última vez para o túmulo e, com a voz rouca, sussurrou,
Descanse em paz, meu filho. Eu te amo, para sempre.
E, com mais lágrimas escorrendo pelo rosto, ela se afastou, deixando o cemitério para trás, mas carregando o filho consigo, em seu coração, para sempre.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/01/2025