Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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O Crime da Padaria
Era uma manhã tranquila, dessas que começam com o cheiro do pão recém-assado invadindo as ruas, fazendo com que qualquer um que passasse perto da padaria parasse, nem que fosse só para respirar fundo e apreciar o aroma. A rua estava vazia, exceto pelo movimento dos poucos pedestres que iam e vinham, cada um em seu ritmo, alguns apressados, outros mais vagarosos, como quem já estava acostumado com a rotina.

Dentro da padaria, estava Silvana, a dona do lugar, que arrumava o balcão, ajeitava as vitrines e verificava as prateleiras. Ela estava acostumada com o movimento do dia a dia, mas algo naquela manhã parecia diferente. Havia uma sensação no ar, algo como uma tensão invisível que ela não sabia exatamente de onde vinha.

Quando o homem entrou, Silvana levantou os olhos e deu um sorriso simpático, como sempre fazia com seus clientes. Ele era um homem comum, vestia uma camisa simples e um boné, um tipo que não chamaria atenção se não fosse pelo fato de estar agindo de maneira estranha.

"Bom dia", disse ele, olhando para a vitrine, mas sem realmente ver os pães.

Silvana sorriu e respondeu, com a mão já estendida em direção ao pão de queijo fresquinho: "Bom dia! O que posso lhe ajudar?"

O homem demorou a responder, seus olhos vagando pela loja como se estivesse buscando algo. Depois, lentamente, ele deslizou a mão para dentro da jaqueta, puxando-a com um movimento quase imperceptível.

"Eu... eu quero um pão", disse ele, a voz falhando, soando mais como uma dúvida do que uma afirmação.

"Claro, um pão fresquinho para o senhor", respondeu Silvana, ainda sem perceber a tensão no ar.

Mas, antes que ela pudesse pegar o pão, o homem deu um passo adiante e, num movimento repentino, colocou algo no balcão, bem à frente de Silvana. Ela olhou fixamente para o objeto e imediatamente percebeu o que era. Uma arma.

"Isso... isso é um assalto", falou ele, a voz tremendo, quase implorando. "Pegue o dinheiro! Eu não quero machucar ninguém, só me dê o dinheiro e eu vou embora!"

Silvana sentiu o pânico subir pela sua garganta, mas tentou se manter calma. Ela sabia que precisava agir devagar e sem pressa. O homem parecia mais assustado do que ela.

"Calma", respondeu Silvana com firmeza, tentando tranquilizá-lo. "Eu vou pegar o dinheiro, não se preocupe."

Ela se afastou um pouco do balcão e foi até o caixa. Sentiu os olhos do homem em sua nuca, a tensão crescente que ele tentava disfarçar. Ela abriu o caixa lentamente, pegando as cédulas. Não era muito, mas o suficiente para o que ele precisava.

"Aqui", disse ela, colocando o dinheiro sobre o balcão. "Leve o que precisar e vá embora. Ninguém vai te seguir."

O homem pegou o dinheiro rapidamente e, antes de sair, olhou para ela mais uma vez.

"Eu não queria fazer isso", murmurou ele, a voz baixa e cheia de arrependimento. "Não sei mais o que fazer."

Silvana não respondeu, apenas o observou enquanto ele saía apressado, ainda com a arma na mão. Quando ele desapareceu pela porta, ela se encostou no balcão, tentando controlar a respiração que estava acelerada. O alívio veio, mas se misturava com uma sensação estranha, como se o que acabara de acontecer fosse um pesadelo que ela ainda não conseguia acreditar.

Do lado de fora, o homem corria, apressado, o dinheiro já guardado no bolso. À medida que se afastava, olhava para trás, sentindo o peso do que acabara de fazer. O crime da padaria não era apenas um assalto, era também uma cena de desespero, um reflexo de uma vida sem alternativas.

Dentro da padaria, Silvana ficou em silêncio por um tempo. A rotina parecia ter se quebrado, e ela sabia que, por mais que tentasse, aquele momento não seria facilmente apagado. A padaria, com seu cheiro de pão fresco e café, já não parecia mais o lugar acolhedor de sempre.

O crime da padaria não tinha sido apenas um roubo. Ele era, acima de tudo, o reflexo de uma dor que não se via, mas que todos sentiam. E, enquanto a cidade continuava a funcionar, uma simples padaria ficava marcada pela escolha desesperada de um homem que não sabia mais a quem
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/01/2025
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