Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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Sombras na Rua da Esperança
Era quase meia-noite quando a viatura da polícia dobrou a esquina da Rua da Esperança, um nome irônico para uma das ruas mais sombrias da cidade. As luzes piscantes refletiam nos muros pichados, enquanto os moradores observavam com olhos curiosos, espiando por detrás das cortinas rasgadas.

O chamado havia sido claro: um corpo encontrado atrás do mercadinho. Ninguém viu nada. Ninguém sabe de nada. Um silêncio cúmplice que só reforçava a atmosfera opressiva daquele lugar.

O investigador Lucas foi o primeiro a sair do carro. Com um caderno de anotações em uma mão e uma lanterna na outra, ele atravessou a rua deserta. A chuva fina caía, tornando o chão escorregadio, mas ele não parecia se importar. Seus olhos estavam fixos no local onde uma fita de isolamento improvisada marcava a cena do crime.

O corpo estava ali, jogado entre sacos de lixo, como se fosse mais um resíduo descartado da sociedade. Um homem jovem, não devia ter mais de 25 anos. Um tiro no peito e marcas de luta nos braços.

"O que temos aqui?" perguntou Lucas ao policial que já estava no local, tentando afastar um pequeno grupo de curiosos que havia se formado.

"Testemunhas dizem que ouviram uma discussão por volta das dez. Depois disso, um tiro e silêncio. Mas, como sempre, ninguém viu nada", respondeu o oficial, com um suspiro cansado.

Lucas se ajoelhou ao lado do corpo, iluminando o rosto pálido da vítima. Não reconheceu de imediato, mas o distintivo preso ao cinto revelou a verdade. Era um policial à paisana.

"Ele é um dos nossos", murmurou Lucas, sentindo o peso da descoberta.

Enquanto analisava o local, algo chamou sua atenção. Um celular caído ao lado do corpo, com a tela ainda acesa, mostrando uma mensagem não enviada. Ele pegou o aparelho com cuidado, lendo as palavras digitadas: "Estou perto. Ele vai aparecer. Me cubra."

"Isso foi uma armadilha", concluiu Lucas em voz baixa, para si mesmo.

A busca por respostas começou imediatamente. Interrogatórios nos becos escuros, portas batidas com insistência, mas o silêncio era a única resposta que a rua oferecia. A Rua da Esperança era conhecida por proteger seus segredos, e naquela noite não seria diferente.

Quando o sol começou a nascer, o investigador ainda estava lá, olhando para o horizonte com os olhos cansados. Ele sabia que esse caso não seria fácil. Sabia que as sombras daquele lugar escondiam muito mais do que se podia ver.

Mas uma coisa era certa: a morte de um dos seus não ficaria sem resposta. E, enquanto as ruas voltavam à vida com o movimento diário, Lucas prometeu a si mesmo que encontraria a verdade, mesmo que precisasse caminhar sozinho por entre as sombras da Rua da Esperança.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/01/2025
Alterado em 03/01/2025
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