O Alvo no Escuro
A noite em Campo Alto era abafada, com o calor do asfalto subindo como ondas invisíveis. O silêncio da rua era interrompido apenas pelos grilos e pelo som distante de uma motocicleta apressada. O investigador Cláudio estava estacionado em um carro discreto, na esquina de um beco conhecido por abrigar pequenos traficantes. Ele observava o local há semanas, acompanhando os movimentos de André "Bicho", um dos chefes da rede de distribuição de drogas na região.
Aquela sexta-feira tinha um peso diferente. Algo na atmosfera parecia mais tenso, como se a noite guardasse um segredo prestes a ser revelado. Cláudio sentiu o peso do revólver na cintura e respirou fundo. Não era um novato na polícia, mas algo naquela missão o fazia se lembrar do porquê havia escolhido aquela profissão: o desejo de justiça, ainda que às vezes fosse uma ideia cada vez mais distante.
Às 23h42, a porta de uma casa velha e mal iluminada rangeu, e um vulto emergiu. Era André "Bicho", com sua silhueta robusta, cigarro pendurado no canto da boca e um envelope nas mãos. Ele olhou para os lados, conferindo a rua com a habilidade de quem vivia sob constante ameaça. Cláudio ajeitou o boné, desceu do carro sem fazer barulho e começou a segui-lo a pé, mantendo distância suficiente para não ser percebido.
André caminhou até um bar decadente, onde a placa de neon piscava como se fosse um alerta. Dentro, a música era alta, mas os poucos clientes pareciam mergulhados em conversas baixas e suspeitas. Cláudio posicionou-se próximo à entrada e observou. Viu André entregar o envelope a um homem desconhecido, alto, de cabelos grisalhos e olhar atento. A troca foi rápida, quase imperceptível.
Antes que Cláudio pudesse decidir agir, ouviu o som de pneus cantando ao longe. Ele olhou para a rua a tempo de ver um carro preto se aproximando em alta velocidade. Não houve aviso. Um braço saiu pela janela do veículo, e disparos ecoaram no ar. O barulho das balas cortou a noite, e o caos se instalou no bar.
Cláudio sacou sua arma e se jogou atrás de uma pilha de caixas para se proteger. A troca de tiros foi intensa, mas breve. O carro sumiu na curva seguinte, deixando um rastro de fumaça e cheiro de pólvora. No chão, André "Bicho" estava caído, o envelope agora manchado de sangue.
O investigador se aproximou, o coração acelerado. André ainda estava vivo, mas seus olhos mostravam que o fim era inevitável. Ele balbuciou algo que Cláudio não conseguiu entender antes de perder a consciência.
Cláudio pegou o envelope. Dentro, encontrou uma lista de nomes. Reconheceu imediatamente vários deles – eram policiais, muitos dos quais estavam envolvidos na investigação. Seus dedos tremeram ao virar a última página. Lá estava o seu próprio nome, sublinhado, com uma anotação ao lado: "eliminar".
O frio na espinha foi instantâneo. Cláudio olhou ao redor, sentindo-se observado, mesmo na solidão do beco. A lista era mais que uma pista – era uma sentença de morte. Ele sabia que o jogo tinha acabado de mudar, e agora, ele não era apenas o caçador, mas também a presa.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/01/2025