O Sino da Igrejinha
Na pequena vila onde tudo parecia imutável, o sino da igrejinha era o guardião dos momentos importantes. Suas badaladas anunciavam o nascer do sol, chamavam os fiéis para as missas e, em dias especiais, celebravam a união de dois corações. Naquela manhã, porém, suas notas carregavam uma alegria que, para muitos, seria inesquecível.
Era o casamento de Ana e João. Ela, a jovem mais linda do vilarejo, com olhos brilhantes e um sorriso que parecia conter a luz do mundo. Ele, um trabalhador humilde, conhecido por sua bondade e pelo jeito de fazer Ana rir, mesmo nos dias difíceis.
A igrejinha estava lotada. Famílias inteiras lotavam os bancos de madeira, enquanto crianças corriam do lado de fora, ansiosas pelo bolo da festa. O padre, com seu livro em mãos, aguardava no altar. E o sino, aquele velho sino que já vira tantas histórias, parecia soar mais vibrante naquele dia, como se também ele estivesse celebrando.
Ana entrou na igreja, radiante em seu vestido simples, mas impecável. João a aguardava no altar, os olhos úmidos, incapaz de esconder a emoção. O mundo parecia perfeito enquanto eles trocavam votos, promessas de amor eterno que fizeram até os mais céticos suspirarem.
Mas a vida, com sua imprevisibilidade cruel, decidiu que aquele dia seria lembrado não por sua alegria, mas pela tragédia que o marcaria. Quando a cerimônia terminou e o casal saiu da igreja, sob aplausos e pétalas jogadas ao ar, algo inesperado aconteceu.
João, sorrindo enquanto ajudava Ana a subir na charrete que os levaria à festa, cambaleou. Segurou-se no banco, tentou falar algo, mas o som não saiu. Em segundos, desabou ao chão. Um grito rompeu o ar, abafando as risadas e a música que começava ao longe.
O sino, que havia tocado de forma festiva minutos antes, agora permanecia em silêncio, como se respeitasse o luto que tomou conta da praça. O padre correu, os convidados cercaram João, mas nada pôde ser feito. Um infarto fulminante levou o homem que, momentos antes, prometera amar Ana até o fim de seus dias.
Ana caiu de joelhos ao lado do corpo de João. Segurou sua mão, ainda quente, e o chamou como se, com sua voz, pudesse trazê-lo de volta. Mas ele já não a ouvia.
O sino tocou novamente naquela tarde. Não para anunciar a celebração de um casamento, mas para marcar a partida de uma vida. Suas notas ecoaram pela vila, carregadas de dor e incredulidade, enquanto a festa preparada para celebrar o amor se transformava em um velório improvisado.
Ana, vestida de branco, permaneceu ao lado de João até o último instante. Quando o caixão foi levado para a mesma igrejinha onde haviam dito "sim", ela sussurrou palavras que ninguém ouviu. Palavras de despedida, de um amor que não teve tempo de florescer plenamente, mas que, mesmo interrompido, seria eterno.
Na vila, dizem que o sino da igrejinha nunca mais soou da mesma forma. Cada badalada parecia carregada da lembrança daquele dia, como se o tempo, em respeito ao amor de Ana e João, tivesse decidido que nunca mais esqueceria.
E Ana, apesar da dor que carregaria para sempre, encontrou forças para viver. Em cada nascer do sol, quando ouvia o sino anunciar um novo dia, ela fechava os olhos e, por um momento, podia sentir João ao seu lado, como se o som lhe trouxesse um eco do amor que, mesmo interrompido, jamais seria apagado.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/01/2025
Alterado em 03/01/2025