Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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O Mistério do Roubo de Ovos
Na manhã ensolarada de terça-feira, o detetive Carlos Alberto, conhecido por seus métodos nada convencionais e sua habilidade de resolver casos aparentemente bobos com um toque de humor, recebeu uma ligação que faria até o mais sério dos investigadores rir: o roubo de ovos.

Era o típico caso de cidade pequena onde o mais intrigante acontecimento era o desaparecimento de alguns ovos da fazenda do Seu Joaquim, um homem de mais de 70 anos que, com suas rugas profundas e uma enxada sempre à mão, parecia mais um personagem de livro do que alguém da vida real.

— Doutor, foi um crime terrível! — disse Seu Joaquim ao telefone, com uma voz dramática. — De madrugada, alguém invadiu meu galinheiro e levou todos os ovos. Não deixaram nem um!

Carlos Alberto, sentado em sua cadeira de rodas (sim, ele tinha uma cadeira de rodas e, na verdade, andava muito bem, mas gostava de usar a cadeira para dar uma "autoridade" no trabalho), ficou quieto por um momento.
— O senhor tem algum suspeito?

— Bem, eu tenho uma ideia... — disse Seu Joaquim, com uma voz que misturava seriedade e cansaço. — Eu soube que o Zé da Mercearia tem andado por aqui... já faz tempo que ele olha minhas galinhas com um jeito estranho. Não confio nele.

Carlos Alberto, que havia enfrentado assassinos e traficantes com a mesma calma que agora observava um copo d'água, decidiu que iria até a fazenda do Seu Joaquim. Quando chegou lá, o cenário parecia normal: galinhas cacarejando, o galinheiro intacto... exceto pelo fato de que, em cima do telhado, estavam dois ovos quebrados, como se alguém tivesse tentado escondê-los ali.

O detetive analisou a situação. O que ele sabia era que quem roubou aqueles ovos estava lidando com uma situação muito específica: galinhas não são ladrões, e ovos não têm valor no mercado negro. Isso parecia mais um capricho de alguém com um paladar específico ou um desejo incomum.

Foi então que ele olhou para as pegadas no chão — grandes, desajeitadas, mas muito evidentes.
— Bem, bem, bem... — murmurou para si mesmo. — Parece que temos um caso de desespero culinário.

Ele seguiu as pegadas até a casa do Zé da Mercearia. Zé, que estava sentado na varanda com um café e um cigarro, olhou para Carlos Alberto e riu.
— E aí, detetive, o que traz você aqui na manhã de terça-feira? Roubo de presunto? Furto de queijo?

Carlos Alberto observou Zé por um momento e, antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, disse:
— Zé, você sabe o que é um crime perfeito? Um roubo de ovos sem deixar rastros. Só você, Zé, é que não sabia esconder sua fome de galinha.

Zé arregalou os olhos, tentando disfarçar o nervosismo.
— O quê? Eu? Roubar ovos? Eu sou um homem honesto, detetive!

Carlos Alberto não precisou de mais nada. Ele apontou para as mãos de Zé, que estavam cobertas de farinha.
— Zé, você tem o cheiro de um homem que acaba de fazer uma omelete. E não é qualquer omelete, né? Deve ser a omelete mais cara da cidade, porque foi feita com ovos de galinha do Seu Joaquim.

Zé, sem mais saída, soltou um suspiro derrotado.
— Tá bom, tá bom, eu confesso! Eu estava com fome, e os ovos estavam tão fresquinhos, tão convidativos... não aguentei. Mas eu só peguei dois! Eu juro!

Carlos Alberto sorriu, fechando o caso com a satisfação de um homem que desvendou o maior mistério da cidade.
— Zé, Zé... você e seus desejos culinários. Não vai dar mais para comer ovos frescos sem pagar por eles, viu? Mas, vou te dar uma dica: da próxima vez, compra na mercearia.

Zé riu, aliviado.
— Tá certo, detetive. Vou começar a fazer omelete com ovos comprados mesmo. Mais barato e sem risco de cadeia.

Carlos Alberto, com um sorriso irônico, foi embora, deixando Zé com a promessa de que o caso mais inusitado de sua carreira teria, ao menos, uma boa história para contar na praça. Afinal, quem diria que um simples roubo de ovos daria tanto trabalho para resolver?

E assim, o detetive Carlos Alberto, sempre com seu estilo peculiar, fechou mais um caso de forma rápida, eficaz e, claro, com uma boa dose de humor.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/01/2025
Alterado em 03/01/2025
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