Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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O Homem que Enganou o Sol
Na pequena cidade de Pedra Dourada, no interior de Minas Gerais, vivia um homem chamado Joaquim. Ele não era rico, não tinha propriedades vastas, mas tinha algo que a maioria das pessoas não possuía: uma fé inabalável em seus próprios planos. Joaquim era o tipo de homem que acreditava que qualquer coisa poderia ser feita, desde que ele tivesse uma boa desculpa e um jeito de enganar os outros.

Certa manhã, ele acordou com um pensamento na cabeça: “Hoje vou enganar o sol.” Ele olhou pela janela e viu o céu claro, sem nuvens, e o sol começando a despontar no horizonte. Joaquim, com sua mente afiada como um facão, teve a grande ideia.

“Por que o sol tem que acordar primeiro e esquentar tudo? Por que não posso enganar ele e fazer com que ele espere um pouco?”

Com esse plano brilhante na cabeça, Joaquim saiu de casa e se dirigiu até o campo. A cidade ainda estava dormindo e o único som que se ouvia era o farfalhar das folhas e o canto distante de um sabiá. Ele sabia que tinha que agir rápido, antes que o sol subisse mais alto e começasse a brilhar forte, como sempre fazia.

Joaquim então começou sua empreitada. Ele pegou uma cadeira de praia velha, a única coisa que tinha em casa que pudesse servir de “escudo”, e se posicionou bem no meio do campo, como se estivesse desafiando o próprio sol. Ele olhou para cima e falou em voz alta:

— Olha, sol, hoje eu vou te enganar. Vai ser por minha conta, minha ideia. Você vai esperar!

E assim, ele sentou na cadeira, com os olhos fechados, fingindo que estava meditando ou praticando alguma técnica de controle mental. O plano de Joaquim era simples: ele achava que se ignorasse o sol e ficasse sentado ali por tempo suficiente, o sol ficaria tão confuso que ele decidiria não subir mais.

As horas passaram. Joaquim continuava sentado, acreditando firmemente que estava no controle. O sol estava agora mais alto, aquecendo o campo, mas Joaquim resistia. Ele estava suando, mas mantinha sua postura inabalável. Pensou que talvez o sol estivesse se perguntando: “O que esse homem está fazendo? Ele não está se movendo! Será que ele venceu a mim?”

Enquanto isso, um grupo de vizinhos passava pela estrada e viu Joaquim ali, na cadeira, com a maior cara de concentrado. Eles se aproximaram e, curiosos, perguntaram:

— Joaquim, o que você está fazendo? Tá esperando o sol deitar ou levantar?

Joaquim, com o suor escorrendo pela testa, olhou para os vizinhos e, com a serenidade de um mestre, respondeu:

— Estou aqui desafiando o sol. Ele vai ter que esperar. Hoje quem manda sou eu!

Os vizinhos, entre risos e olhares desconcertados, começaram a duvidar da sanidade de Joaquim, mas resolveram não interromper o plano, que parecia ser mais engraçado do que qualquer outra coisa. Eles seguiram caminho, comentando entre si sobre o "grande feito" de Joaquim.

O sol, claro, não se importava muito com a estratégia de Joaquim. Ele continuou subindo no céu, aquecendo o campo e começando a derreter a capa de nuvens que estavam um pouco mais distantes. Já era quase meio-dia, e Joaquim estava começando a se perguntar se o sol realmente tinha sido enganado ou se ele estava apenas ignorando suas ordens.

Foi então que uma brisa mais forte passou por ele, fazendo Joaquim dar um espirro. Nesse momento, ele olhou para o horizonte e percebeu que o sol estava agora diretamente acima dele, brilhando com força. Joaquim levantou da cadeira, coçando a cabeça, e disse, derrotado, mas ainda com um sorriso no rosto:

— Acho que o sol ganhou dessa vez, mas quem sabe amanhã eu tente de novo.

E assim, Joaquim voltou para casa, com a sensação de que havia vivido uma grande aventura, mesmo que fosse uma aventura um pouco... sem sentido. O sol, é claro, não tinha se importado nem um pouco com seus planos. No final, Joaquim aprendeu uma lição importante: mesmo que tente enganar o sol, ele sempre vai brilhar — e, no fundo, ele também sabia que o verdadeiro truque era saber rir das tentativas de enganar a natureza.

Os vizinhos, por sua vez, continuaram a contar a história do homem que tentou enganar o sol, e ela virou uma lenda local, para o divertimento de todos. E Joaquim? Bem, ele nunca mais tentou fazer o sol esperar. Pelo menos não até a próxima manhã.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/01/2025
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