Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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O Retrato na Parede
Joana sempre olhava o retrato na parede da sala e sentia um aperto no coração. Nele, a família parecia perfeita: pai, mãe e três filhos, sorrindo para uma câmera que não captava as dores escondidas. Depois da separação dos pais, o quadro se tornou um lembrete silencioso das brigas e ressentimentos. Anos depois, ao visitar a casa de sua mãe, Joana encontrou o retrato no chão, quebrado. Não teve coragem de perguntar o motivo, mas percebeu que talvez, finalmente, sua família estivesse tentando reconstruir algo sem os pesos do passado.

Ao pegar o retrato quebrado, sentiu o toque do vidro rachado contra os dedos. Joana hesitou por um instante antes de recolocá-lo sobre a mesa. Naquela mesma noite, enquanto ajudava a mãe a organizar a casa, encontrou um álbum de fotos antigas.

— Achei que você tinha jogado isso fora, mãe — disse Joana, folheando as páginas amareladas.

Sua mãe suspirou, sentando-se ao seu lado.

— Quase joguei. Mas percebi que essas memórias são importantes, mesmo com as coisas ruins que vieram depois.

Enquanto olhavam as fotos, Joana percebeu pequenos detalhes que nunca notara antes: os olhares de cumplicidade entre os pais em algumas imagens, os sorrisos genuínos em outras. Era como se o álbum mostrasse uma família que, apesar de suas falhas, ainda tinha momentos de amor e unidade.

Dias depois, Joana decidiu restaurar o retrato. Levou-o a uma loja de molduras e escolheu um novo acabamento, algo simples, mas elegante. Quando retornou com o quadro pronto, sua mãe sorriu pela primeira vez em muito tempo.

— Ficou lindo, Joana. Obrigada por cuidar disso.

Ao pendurar o retrato novamente na parede, Joana sentiu que algo havia mudado. O quadro, agora restaurado, parecia simbolizar uma tentativa de reconstruir não apenas uma peça decorativa, mas também as relações dentro da família.

Naquele fim de semana, Joana sugeriu um jantar para reunir seus irmãos. A ideia foi recebida com hesitação, mas, surpreendentemente, todos concordaram em participar. Durante o encontro, as conversas começaram tensas, mas aos poucos se tornaram mais leves. Risos preencheram a sala que antes parecia silenciosa demais.

O retrato na parede era uma presença silenciosa, testemunha de novos momentos que, desta vez, Joana esperava que não fossem esquecidos.

— Você fez bem em guardar aquele álbum, mãe — disse Joana antes de ir embora naquela noite.

Sua mãe a abraçou com ternura.

— E você fez bem em nos lembrar que, apesar de tudo, ainda somos uma família.

Enquanto Joana dirigia para casa, olhou pelo retrovisor e viu a luz acesa na casa da mãe. Pela primeira vez em anos, sentiu que aquele lugar poderia voltar a ser um lar.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025
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