Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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A Carta Não Entregue
Pedro estava em casa, organizando algumas gavetas antigas que pertenciam ao pai, quando encontrou algo que chamou sua atenção: um envelope amarelado pelo tempo, com a caligrafia inconfundível de seu pai. Curioso, abriu a carta e, ao ler as primeiras palavras, sentiu um nó na garganta. Era uma carta que seu pai havia escrito para sua mãe, mas que, pelo visto, nunca foi entregue.

O conteúdo da carta era profundo e carregado de emoções. Seu pai pedia desculpas por atitudes que ele reconhecia como erros e fazia uma declaração de amor sincera. Ele falava sobre arrependimentos, sobre o desejo de reconstruir a relação e sobre o quanto amava a mãe de Pedro, mesmo nos momentos mais difíceis. Para Pedro, aquelas palavras tinham o peso de uma confissão que poderia ter mudado o rumo da história da família.

Por um instante, ele ficou paralisado, segurando aquele pedaço de papel que parecia pulsar de emoção. Em sua mente, imagens da infância surgiram como um filme: os momentos felizes, as brigas que ele não entendia na época e, por fim, o divórcio que havia separado seus pais. Pedro se perguntava o que teria acontecido se a carta tivesse chegado às mãos de sua mãe. Será que eles teriam se reconciliado? Será que a história da família teria sido diferente?

Pedro decidiu compartilhar a descoberta com seus irmãos. Durante um jantar de família, ele trouxe a carta e leu o conteúdo em voz alta. À medida que as palavras de seu pai ecoavam pela sala, o silêncio tomou conta do ambiente. Seus irmãos, assim como ele, foram tomados por uma mistura de surpresa, tristeza e nostalgia. Era como se, por um momento, o passado estivesse presente na sala, trazendo à tona sentimentos há muito tempo adormecidos.

— Talvez nosso pai tenha escrito isso, mas não teve coragem de entregar — disse Pedro, tentando entender as razões por trás do gesto inacabado.

Os irmãos começaram a compartilhar lembranças. Falaram sobre como cada um vivenciou o divórcio e sobre as marcas que ele deixou. No entanto, ao mesmo tempo, a carta trouxe um novo olhar para a relação dos pais. Eles não eram apenas figuras de autoridade; eram seres humanos com suas próprias complexidades, medos e falhas.

Embora fosse tarde para mudar o passado, a carta teve um impacto profundo nos filhos. Ela os ajudou a entender que, mesmo com as imperfeições, seus pais tinham se amado e tentado fazer o melhor que podiam. Houve lágrimas, mas também houve perdão.

No final daquela noite, Pedro guardou a carta em um álbum de família, junto com fotos e outras memórias preciosas. Não para reviver o que não podia ser mudado, mas para lembrar que, apesar dos desencontros, havia amor na história deles. A carta não foi entregue a tempo, mas chegou aos filhos, unindo-os de uma maneira que nem eles imaginavam ser possível.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025
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