A Mesa de Domingo
A mesa grande de madeira era o coração da casa de Dona Lúcia. Era ali que, por anos, os risos, conversas e o aroma das refeições caseiras davam vida ao lar. A cada domingo, a família se reunia: filhos, genros, noras e, mais tarde, os netos que corriam pela casa, enchendo-a de alegria. A mesa parecia quase mágica, capaz de acolher todos com fartura e carinho.
Com o tempo, porém, a rotina mudou. Os filhos cresceram, as vidas tomaram rumos diferentes, e os almoços de domingo ficaram raros. A mesa, antes cheia de pratos e histórias, começou a ser apenas um móvel, um símbolo de um passado que parecia cada vez mais distante. Dona Lúcia, já com cabelos brancos e um pouco mais lenta nos movimentos, sentia falta do burburinho. Olhava para a mesa e se lembrava das vezes em que as conversas duravam até o final da tarde, acompanhadas de café e bolo feito por suas mãos.
Um dia, enquanto limpava a madeira lustrosa, uma lágrima escorreu por seu rosto. Lúcia decidiu que era hora de tentar trazer de volta aquele calor que tanto a confortava. Pegou o celular e, com esforço, enviou uma mensagem para o grupo da família:
“O próximo almoço será na minha casa. Tragam apenas seus corações.”
A mensagem, simples e direta, parecia um pedido cheio de saudade e afeto. No início, Lúcia não recebeu muitas respostas. Alguns estavam ocupados, outros hesitaram, mas, pouco a pouco, a confirmação chegou.
Naquele domingo, a casa se encheu de vida novamente. A mesa grande parecia sorrir ao ver os pratos dispostos, as mãos que se estendiam para se servir e, principalmente, os olhares que se cruzavam. As diferenças e os conflitos, que o tempo tinha alimentado, deram lugar ao que realmente importava: o amor que, apesar de tudo, ainda unia aquela família.
Lúcia, sentada em sua cadeira favorita, observava tudo com um sorriso tranquilo. O coração estava aquecido, e ela percebeu que o amor, assim como a madeira da mesa, era resistente e podia suportar os desgastes do tempo. Aquela tarde foi um renascimento, não só para a mesa, mas para todos ali presentes.
Naquele dia, Lúcia aprendeu que, às vezes, tudo o que precisamos para reacender o calor de uma família é dar o primeiro passo e abrir espaço para o reencontro. A mesa de madeira, agora, não era apenas um símbolo do passado, mas de um presente renovado.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025