Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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O Último Abraço
Marta sabia, no fundo de sua alma, que aquele seria o último abraço em seu pai. A doença, implacável e cruel, havia enfraquecido o homem forte que sempre fora seu porto seguro. Agora, ele mal conseguia sair da cama, e sua respiração era tão frágil quanto o fio de vida que ainda o mantinha ali.

Quando ela entrou no quarto, o ar parecia mais pesado. Ele estava deitado, com os olhos fechados, mas a serenidade em seu rosto contrastava com a luta que travava em silêncio. Marta sentou-se ao lado dele e pegou sua mão, agora magra e frágil. Um sorriso cansado iluminou seu rosto ao reconhecer o toque da filha.

Ela o abraçou com cuidado, como se temesse quebrá-lo, e sentiu o peso da despedida apertar seu peito. Não era apenas o fim da vida de seu pai, mas o fim de uma era: a de estar ao lado daquele que sempre foi sua fortaleza, seu exemplo de bondade e sabedoria. O silêncio entre eles era preenchido por emoções que dispensavam palavras.

Enquanto o segurava, as lágrimas escorriam silenciosas, uma a uma, como se quisessem contar toda a gratidão que ela sentia. Marta, com a voz embargada, murmurou:
— Obrigada, pai, por tudo. Por me ensinar, por me proteger, por me amar.

Ele abriu os olhos por um momento, e um brilho suave pareceu iluminar suas pupilas cansadas. Com esforço, sussurrou:
— Você sempre será meu maior orgulho.

Naquela noite, Marta teve um sonho que nunca esqueceria. Estava em um campo florido, com o céu pintado de tons suaves de laranja e azul. Seu pai estava lá, de pé, com uma expressão serena e um sorriso caloroso. Ele parecia saudável, forte, como nos tempos em que ela era criança e ele a carregava nos ombros. Ele acenou para ela, e Marta sentiu uma paz inexplicável tomar conta de seu coração.

Na manhã seguinte, a realidade trouxe a notícia inevitável: seu pai havia partido enquanto dormia. O vazio era imenso, mas o amor que ele deixou para trás preenchia cada espaço da memória. Marta compreendeu, então, que o último abraço não era um adeus definitivo, mas uma passagem para um vínculo eterno.

O campo florido do sonho tornou-se uma imagem recorrente em sua mente. Sempre que fechava os olhos e sentia saudade, Marta o imaginava lá, sorrindo e acenando. E assim, mesmo na ausência, ele continuava presente, como uma flor que nunca murcha, um amor que jamais seria esquecido.







Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025
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