Elegeram o Caipira
Na pequena cidade de Tabocal do Norte, os políticos adoravam uma boa artimanha. A eleição estava chegando, e um grupo de figurões locais, certos de que poderiam manipular tudo como sempre, teve uma ideia que consideraram genial: eleger um candidato caipira, alguém sem nenhuma experiência política, para ser o prefeito. A escolha recaiu sobre Zé Bertoldo, um homem simples da roça, conhecido por sua fala arrastada e por andar com a inseparável enxada.
— O Zé é perfeito! — cochichou um dos engravatados. — Ele não entende nada de política. Vai assinar o que a gente mandar e nem vai perceber!
Zé Bertoldo foi convencido a se candidatar. Com promessas de que não teria trabalho nenhum e ainda ganharia uns trocados, ele aceitou. Assim, nasceu o slogan mais inusitado da história de Tabocal:
“Vote no Zé, que não dá trabalho pra ninguém!”
Para surpresa de todos, a campanha do Zé foi um sucesso. Ele usava expressões como:
— Eu não prometo nada, mas se der certo, tamo junto!
E, no dia da eleição, Zé Bertoldo venceu com uma esmagadora maioria de votos.
O Começo da Revolução
Logo que assumiu, o grupo que o elegeu foi até a prefeitura com pilhas de papéis para ele assinar. Mas Zé, com a calma que só um homem da roça tem, olhou para os documentos e disse:
— Peraí, moçada. Deixa eu ler isso aqui direito.
— Ler? — perguntaram os engravatados, surpresos.
— Ué, só porque sou caipira, acham que não sei ler? Quem estuda o preço do milho toda semana sabe fazer conta e ler papel também!
Os engravatados engoliram seco. Zé Bertoldo leu os documentos com a atenção de quem inspeciona uma plantação de mandioca e começou a devolver cada um deles com uma resposta:
— Esse contrato aqui tá mais torto que cerca velha! Esse outro, nem meu galo de estimação assinava.
Mudança na Cidade
Nos meses seguintes, Zé surpreendeu a todos. Ele fez reuniões públicas na praça, onde escutava as queixas dos moradores com a paciência de quem espera chuva em tempo seco. Descobriu que o dinheiro da prefeitura estava sendo desviado e mandou revisar todos os contratos. Com o dinheiro economizado, mandou arrumar as estradas de terra e construiu uma ponte nova.
A população estava eufórica.
— Quem diria! O Zé tá botando Tabocal nos trilhos! — comentavam na feira.
Enquanto isso, os engravatados estavam desesperados.
— Esse caipira nos enganou! Ele é mais esperto do que parece! — reclamavam entre si.
O Fim da História
No final do mandato, Tabocal do Norte era outra cidade. Zé Bertoldo, com sua simplicidade e honestidade, mostrou que inteligência não se mede por palavras difíceis ou por terno e gravata. Na despedida de seu cargo, ele subiu no palco da praça e disse:
— Quando me chamaram pra ser prefeito, achavam que iam me enganar. Mas eu sempre digo: a gente pode até ser simples, mas bobo a gente não é.
A multidão aplaudiu de pé. No final, até os engravatados tiveram que admitir que, por acaso ou por destino, elegeram o melhor prefeito que Tabocal do Norte já teve.
E Zé Bertoldo? Voltou pra roça, pra cuidar de sua horta e contar a história de como ele, o caipira, deixou os espertalhões comendo poeira.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025