Jamelão ou Jabuticaba?
Em Sidrolândia, nos tempos em que o trem era a principal conexão com o mundo, todo acontecimento virava motivo de conversa na pracinha. Mas nada se comparava às histórias de Geinho, um jovem conhecido por sua alegria contagiante e por sua capacidade de transformar o dia mais comum em um evento memorável.
Geinho tinha um pequeno problema — confundia as coisas com facilidade. Mas, longe de ser motivo de chacota, isso fazia dele uma figura adorada por todos. Seu sorriso largo e seu jeito ingênuo conquistavam o coração até dos mais ranzinzas.
Um dia, Geinho teve uma ideia brilhante. Durante a época de jamelão, ele enchia sacolinhas com a fruta, colhidas à beira das ruas, e ia para a estação de trem. Ali, esperava ansiosamente a chegada da locomotiva, com seu apito característico e vagões lotados de passageiros.
Assim que o trem parava, ele corria ao longo das janelas abertas, gritando:
— Olha a jabuticaba fresquinha! Docinha que nem mel! Só hoje! Só hoje!
Os passageiros, encantados pela ideia de saborear jabuticabas durante a viagem, estendiam as mãos com moedas e pegavam as sacolinhas. Geinho era tão rápido que mal dava tempo de alguém abrir a sacola para conferir.
Com o trem já em movimento, os passageiros começavam a abrir as sacolinhas. E foi aí que a confusão começava.
— Mas isso aqui é jamelão! — exclamava alguém no vagão.
— Fui enganado! — gritava outro, segurando as frutinhas pretas que deixavam a língua roxa e o gosto amargo.
O vagão, antes animado, logo se enchia de reclamações e xingamentos que ecoavam pela estação. Enquanto isso, Geinho ficava parado no fim da plataforma, acenando para o trem que se afastava, com um sorriso tão inocente que ninguém conseguia ficar realmente bravo com ele.
A história se espalhou por Sidrolândia. Alguns riam e diziam que Geinho tinha espírito de comerciante; outros, mais experientes, passaram a verificar qualquer sacolinha antes de comprar. Mas, apesar da confusão, ninguém deixava de admirar o jovem pela sua esperteza cômica e pela leveza com que encarava a vida.
Com o tempo, a brincadeira virou tradição. Quando alguém queria pregar uma peça em Sidrolândia, dizia:
— Vai lá, compra do Geinho, que ele tá vendendo jabuticaba!
E ele? Continuava sorrindo e planejando novas travessuras, porque sabia que, em uma cidade como Sidrolândia, até os enganos podiam ser motivo de boas risadas e histórias para contar.
Nem todo “jamelão” precisa ser amargo. Às vezes, ele vem recheado de doçura, alegria e uma boa dose de inocente criatividade. E assim, Geinho se eternizou na memória da cidade como o menino que vendia jabuticaba... ou quase isso!
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025