O Gago e o Pedido de Casamento
Na pequena cidade de Santa Felicidade, Toninho Gago era conhecido por sua simpatia e pelo sorriso tímido, mas principalmente pela sua dificuldade em articular frases sem engasgar nas palavras. Apesar disso, Toninho tinha um coração de ouro e, para surpresa de muitos, havia conquistado o coração de Clarinha, a moça mais bonita e doce da cidade.
Depois de meses de namoro, Toninho decidiu que era hora de pedir Clarinha em casamento. O problema? Ele precisava vencer sua gagueira para fazer o grande pedido. Determinado, passou dias ensaiando na frente do espelho.
— C-c-c... Casa c-comigo? — dizia, travando na última sílaba.
Sua melhor amiga, Dona Zulmira, que era meio curandeira e meio psicóloga autodidata, tentou ajudar.
— Toninho, quando sentir que vai travar, respire fundo e conte até três. Vai dar certo! — aconselhou ela.
Chegou o dia do pedido. Toninho planejou tudo: um jantar romântico na pracinha, luzes piscando, e até uma serenata improvisada por seus amigos da banda local. Clarinha, encantada, não suspeitava de nada.
Quando o momento chegou, Toninho se ajoelhou, segurando a mão dela. O coração batia mais forte que bateria de escola de samba. Ele respirou fundo, como Dona Zulmira havia ensinado, e começou:
— C-c-c...
O silêncio pairou no ar. A pequena plateia que se formara ao redor segurava o riso, e Clarinha olhava para ele, paciente. Toninho tentou novamente.
— C-c-c...
Um cachorro latiu, e um bêbado na esquina começou a rir, aumentando ainda mais o nervosismo. Toninho suava frio, mas não desistiu.
Na terceira tentativa, respirou tão fundo que quase caiu para trás, mas finalmente conseguiu:
— C-c-casa co-comigo, Cla-Cla-Clarinha?
A praça explodiu em aplausos. Clarinha, emocionada e rindo ao mesmo tempo, respondeu sem hesitar:
— É claro que sim, Toninho!
O alívio de Toninho foi tão grande que ele desabafou em voz alta:
— A-a-ate que e-eu c-c-consegui, pô!
A plateia riu, e a história do pedido de casamento virou lenda em Santa Felicidade. Na festa de casamento, Toninho fez um discurso que, embora cheio de pausas e gagueiras, emocionou todos os presentes. Afinal, quando se trata de amor, não importa se as palavras vêm aos trancos e barrancos — o que importa é a sinceridade do coração.
E assim, Toninho Gago e Clarinha viveram felizes para sempre, provando que, com paciência e muito amor, qualquer travessura da língua pode ser superada.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025