Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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O Destino de Dona Amélia
Na pacata cidade de Boa Esperança, Dona Amélia era uma mulher conhecida por sua bondade, paciência e pela habilidade em trazer vidas ao mundo. Parteira de mão cheia, ela ajudara incontáveis mães a darem à luz. Mas sua maior prova de compaixão e força aconteceu dentro de sua própria casa, em circunstâncias que poucos poderiam suportar.

Amélia era casada com João, um homem de aparência simples e modos afáveis, mas de comportamento questionável. Depois de anos de casamento, ela soube de forma indireta que João mantinha um relacionamento com outra mulher, Rita, uma jovem viúva que morava na periferia da cidade.

A descoberta foi dolorosa, mas Amélia, uma mulher de fé e coração grande, escolheu o silêncio. Não por fraqueza, mas porque acreditava que a dignidade não precisava ser berrada, e que certas batalhas eram travadas de formas inesperadas.

Os anos passaram, e Rita engravidou. Quando o momento do parto chegou, João, em um misto de culpa e desespero, trouxe Rita até a casa que dividia com Amélia. Foi uma situação surreal: a amante prestes a dar à luz no leito conjugal, e a esposa a postos para ajudá-la.

Amélia recebeu Rita com respeito. Limpou a cama, ajeitou as cobertas e pediu que João saísse, pois, segundo ela, aquilo era "coisa de mulher". Ao longo das horas, enquanto Rita gemia de dor, Amélia se mostrou a profissional experiente que era. Trouxe a criança ao mundo com um sorriso no rosto e palavras de encorajamento.

— Seja bem-vinda, pequena! Você não tem culpa dos erros de ninguém.

Esse foi o primeiro de seis partos que Amélia realizou para Rita, todos na mesma cama que dividia com João. E em cada um deles, ela demonstrava a mesma generosidade e o mesmo respeito. Nunca uma palavra rude, nunca uma lágrima à vista de quem estava ao seu redor.

Com o tempo, a situação, antes motivo de cochichos pela cidade, tornou-se um exemplo de humanidade. Muitos perguntavam como Amélia suportava aquilo. Ela apenas respondia:
— Não posso mudar o coração de ninguém, mas posso decidir como vou agir.

Rita, por sua vez, passou a respeitar profundamente Amélia, reconhecendo o quanto sua presença na vida de João havia sido dolorosa para a parteira. Um dia, antes do nascimento do último filho, Rita segurou as mãos de Amélia e pediu desculpas com lágrimas nos olhos.

— Você é a mulher mais forte que já conheci.

Amélia apenas sorriu e disse:
— Faça o que for certo daqui em diante. Isso é o bastante.

Quando João finalmente deixou Rita, Amélia continuou sua vida com a dignidade intacta, amada por todos que a conheciam. Sua história é lembrada até hoje na cidade como um exemplo de força e respeito, um lembrete de que, mesmo diante das piores circunstâncias, é possível agir com bondade e honradez.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025
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