Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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O Eco de Valentina
Valentina era uma jovem de beleza incomum. Seus cabelos negros ondulavam como rios de ébano, e seus olhos castanhos eram profundos, quase hipnotizantes. Mas, para além de sua aparência, o que realmente a definia era sua sede de conhecimento. Ela sonhava em ser médica, salvar vidas e mudar o mundo.

Na faculdade de medicina, Valentina destacava-se não só pela beleza, mas também pelas notas impecáveis. Isso, no entanto, despertou inveja em algumas colegas. Larissa, Camila e Juliana, conhecidas como "As Três", viam em Valentina não apenas uma rival nos estudos, mas um alvo fácil para suas crueldades.

Os boatos começaram discretos: sussurros de que Valentina conseguia notas altas porque seduzia os professores. Mas logo evoluíram para humilhações públicas. Bilhetes ofensivos eram deixados em seu armário, livros desapareciam, e as risadas zombeteiras ecoavam pelos corredores.

Valentina, resiliente, ignorava as provocações e mergulhava nos estudos. Contudo, a maldade de "As Três" alcançou um ponto sem retorno.

Numa noite chuvosa, Valentina foi convidada para uma falsa festa de confraternização na faculdade. Apesar de desconfiada, ela decidiu ir, acreditando que talvez fosse uma oportunidade de reconciliação. Ao chegar, percebeu que havia caído em uma armadilha.

No estacionamento deserto, foi cercada por homens desconhecidos, contratados pelas colegas para "dar-lhe uma lição". Valentina foi brutalmente atacada, abusada e deixada para morrer. Quando seu corpo foi encontrado no dia seguinte, a notícia chocou a cidade. Mas, curiosamente, "As Três" não demonstraram nenhum arrependimento.

Foi então que as coisas começaram a mudar na faculdade.

Na sala onde Valentina costumava estudar até tarde, cadernos começavam a cair do nada. Os alunos ouviam passos, embora o corredor estivesse vazio. Manchas de sangue apareciam misteriosamente nas carteiras, apenas para desaparecerem minutos depois.

Os cantos que Valentina costumava murmurar enquanto revisava suas anotações ecoavam à noite, assustando os seguranças. Até mesmo "As Três" passaram a ser atormentadas. Larissa afirmava ver o reflexo de Valentina no espelho de seu quarto; Camila ouvia a voz da jovem chamando seu nome no meio da noite; e Juliana sentia o cheiro de flores murchas, como se um buquê funerário estivesse sempre por perto.

A faculdade tornou-se um lugar de terror. Alguns alunos abandonaram o curso; outros se recusavam a entrar na sala onde Valentina costumava sentar. "As Três" enlouqueceram lentamente, consumidas pela culpa e pelos fenômenos inexplicáveis.

Um ano após a tragédia, durante uma reunião da faculdade, Larissa, aos prantos, confessou tudo. A verdade chocou a comunidade acadêmica, mas foi também o início do fim dos tormentos.

A sala onde Valentina estudava foi transformada em um espaço de memória. Uma placa com seu nome e uma citação de sua matéria preferida, anatomia, foi instalada: "A essência da vida está no respeito por ela."

Dizem que, desde então, os fenômenos cessaram. Mas, de vez em quando, quando a chuva cai e o vento sussurra pelas janelas da faculdade, os mais atentos juram ouvir a voz de Valentina, repetindo baixinho:
— Eu só queria estudar.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025
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