O Último Caminho de Mimoso
Simão era um homem simples, morador de uma pequena fazenda no interior, conhecido por sua bondade e pelo carinho especial que tinha por um boi chamado Mimoso. O animal não era apenas mais um no pasto; para Simão, Mimoso era um companheiro de vida.
O boi chegara à fazenda ainda bezerro, órfão, frágil e faminto. Simão o encontrou perto de um rio, magro e perdido, e decidiu levá-lo para casa. Alimentou-o com leite morno em uma mamadeira improvisada e cuidou dele com um amor que não se via nem entre muitos humanos. Com o tempo, Mimoso cresceu forte, mas manteve o comportamento dócil e a ligação inquebrável com seu cuidador.
A rotina de Simão e Mimoso era um espetáculo diário. O boi o seguia para todo lado, desde a lavoura até o mercado da cidade. Simão conversava com ele como se falasse com um amigo, e Mimoso parecia entender. Sempre abanava o rabo em resposta ou soltava um mugido baixo, quase como uma risada bovina.
Com os anos, os dois envelheceram juntos. Simão já não tinha a mesma força de antes, mas o boi permanecia ao seu lado, fiel e protetor. Quando Simão adoecia, Mimoso ficava inquieto, andando em círculos ao redor da casa, como se sentisse que algo estava errado.
Uma manhã de inverno, Simão não saiu para alimentar Mimoso. O silêncio na casa preocupou os vizinhos, que foram até lá e o encontraram deitado em sua cama, sereno, mas sem vida. A notícia da morte de Simão se espalhou rapidamente pela comunidade, mas algo ainda mais estranho aconteceu: Mimoso desapareceu.
Os moradores procuraram por ele durante todo o dia. Vasculharam os pastos, o riacho e até as estradas próximas, mas não havia sinal do boi. Era como se ele tivesse desaparecido no ar.
Dois dias depois, um grupo de homens encontrou Mimoso deitado sob uma grande árvore, no alto de uma colina que Simão costumava visitar. O boi estava morto, com o corpo perfeitamente alinhado, como se tivesse escolhido aquele lugar para descansar. Seus olhos pareciam pacíficos, e ao redor dele havia um silêncio quase sagrado.
Ninguém conseguiu explicar como Mimoso chegou até ali ou o que o levou àquele fim misterioso. Alguns acreditavam que o boi, ao sentir a perda de seu amigo, decidiu seguir o caminho dele, como uma prova de lealdade que transcendeu a compreensão humana.
A comunidade enterrou Simão e Mimoso lado a lado, perto da mesma árvore onde o boi foi encontrado. No local, ergueram uma placa simples que dizia: "Amigos até o fim."
Dizem que, em noites de lua cheia, é possível ouvir o som de passos lentos e mugidos baixos perto da colina. E muitos acreditam que são Simão e Mimoso, juntos novamente, percorrendo os campos de um lugar melhor.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025