Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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Sob a Sombra da Mangueira
Na pequena Vila Esperança, havia uma imponente mangueira que dominava o centro de uma fazenda, com raízes profundas e galhos que se estendiam como braços protetores. A árvore era testemunha silenciosa de encontros, segredos e sonhos que se desdobravam à sua sombra. Mas, acima de tudo, ela guardava a história de um amor impossível.

Marta e José cresceram juntos naquela fazenda. Desde crianças, brincavam sob a mangueira, penduravam balanços em seus galhos e dividiam os frutos doces que caíam no chão. À medida que os anos passaram, a amizade se transformou em algo mais profundo. Eles sabiam que estavam apaixonados, mas mantinham o sentimento em segredo, conscientes das diferenças entre suas famílias.

Marta era filha de um fazendeiro rico e orgulhoso, enquanto José era filho de um dos empregados. Para os pais de Marta, um relacionamento entre os dois era impensável. O amor deles era visto como uma afronta às convenções sociais.

A mangueira se tornou o refúgio dos amantes. À sua sombra, eles trocavam juras de amor, planejavam um futuro juntos e sonhavam com um mundo onde pudessem ser livres para viver o que sentiam.

— Um dia, vamos embora daqui — dizia José, segurando as mãos de Marta. — Construiremos nossa vida longe de tudo isso.

Mas os planos foram interrompidos quando o pai de Marta descobriu o romance. Furioso, ele proibiu a filha de sair de casa sem escolta e ameaçou despedir José e sua família se ele se aproximasse novamente.

Naquela mesma noite, José foi até a mangueira pela última vez, na esperança de ver Marta. Ela apareceu, com lágrimas nos olhos, e eles se abraçaram sob o manto da árvore, sabendo que aquele seria o fim.

— Não importa o que aconteça — disse Marta —, vou te amar para sempre.

Eles se despediram sob o olhar silencioso da mangueira, e José foi embora da fazenda no dia seguinte, sem deixar rastros. Marta, por sua vez, foi forçada a casar com um homem que não amava, escolhido por seus pais.

Os anos passaram, e a mangueira continuou ali, firme, como uma sentinela do tempo. Marta costumava sentar-se sob sua sombra, sozinha, relembrando os dias felizes ao lado de José. A árvore, com suas folhas balançando ao vento, parecia compreender a saudade que ela carregava.

Dizem que, em uma tarde ensolarada, décadas depois, um homem retornou à fazenda. Era José, agora grisalho, mas com os mesmos olhos que um dia haviam encantado Marta. Ele foi até a mangueira, como que atraído por um chamado invisível.

Marta, que também estava ali, caminhou em sua direção. Eles não trocaram palavras, apenas sorrisos e olhares cheios de uma saudade que nunca se apagou. Sob a mangueira, o tempo parecia não existir, e, por um instante, o amor deles viveu novamente.

Embora a vida os tivesse separado, a mangueira permaneceu como a eterna testemunha de um amor que, apesar das barreiras, nunca deixou de existir em seus corações. A sombra da árvore, agora sagrada para a vila, era um lembrete de que nem mesmo o tempo ou a maldade podiam apagar a força do verdadeiro amor.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025
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