Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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O Papagaio Pecador
Na pequena cidade de Santa Paz, onde todo mundo conhecia a vida de todo mundo, havia uma figura notória: Dona Geralda. Com seu ouvido afiado e língua solta, ela era a maior fofoqueira da região. Seu passatempo favorito era bisbilhotar e espalhar segredos. Mas Dona Geralda tinha uma companhia peculiar em casa: um papagaio chamado Zeca, que não apenas repetia tudo o que ouvia, mas parecia ter um talento especial para espalhar verdades inconvenientes.

Certo domingo, Dona Geralda se arrumou toda para a missa. Vestiu seu melhor vestido, passou perfume e saiu, sem perceber que Zeca escapara da gaiola e, em um voo desajeitado, a seguiu até a igreja.

A missa já estava em andamento quando Zeca entrou pela porta principal, pousou em um dos bancos de madeira e começou seu espetáculo.

— “Ah, Dona Geralda, chegou cedo pra saber da vida dos outros, hein?” — gritou o papagaio, fazendo com que todos os fiéis se virassem para a mulher, que ficou vermelha como um tomate.

— Misericórdia! — exclamou ela, tentando fingir que o papagaio não era dela.

O padre, um senhor paciente, tentou ignorar o incidente e continuou sua homilia, mas Zeca não estava disposto a parar.

— “Dona Geralda, conta da vizinha! Aquela do marido que sumiu!” — gritou ele, provocando risadas abafadas entre os presentes.

Dona Geralda, morta de vergonha, levantou-se e tentou capturar o papagaio, mas ele voou para o altar. Pousou ao lado do padre e, com ares de autoridade, imitou sua voz:

— “Amados irmãos, hoje vamos falar sobre os pecados da língua!”

A igreja explodiu em gargalhadas. Até o padre, tentando manter a compostura, riu da performance de Zeca.

— Geralda, controle seu papagaio, por favor! — disse ele, rindo, enquanto Dona Geralda corria pelo altar tentando pegar o danado.

Mas Zeca não terminou ali. Ele olhou para a dona e soltou a bomba:

— “E aquele segredo seu, hein, Geralda? Aquele que ninguém pode saber!”

Nesse momento, Dona Geralda desabou no chão, mais por desespero do que por cansaço.

Finalmente, um coroinha conseguiu capturar Zeca e entregá-lo à dona, que saiu da igreja carregando o papagaio como se ele fosse o próprio demônio.

Naquele domingo, ninguém prestou atenção à missa. O assunto do dia foi a performance de Zeca e os segredos que ele quase revelou. E Dona Geralda? Ela nunca mais voltou à igreja com a mesma confiança, mas todos perceberam que, depois daquele dia, sua língua ficou um pouco mais controlada.

Já Zeca, em casa, só repetia baixinho:

— “Pecados da língua, pecados da língua!”
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025
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