Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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Três Amigos e Uma Despedida
Era uma tarde quente de verão quando os três amigos se reuniram, como faziam há anos. O cheiro de terra seca e o som das cigarras davam a sensação de que o tempo passava devagar naquele pequeno pedaço de cidade. Eles, Arthur, Matheus e Levy, estavam na mesma praça de sempre, debaixo da velha árvore que os havia visto crescer.

Naquele dia, algo estava diferente. Arthur, o mais calado dos três, parecia estar carregando um peso maior do que o normal. Ele olhava para o horizonte, mas não via nada além de uma estrada longa e sem fim. Matheus e Levy, como sempre, estavam animados, conversando sobre os planos para a temporada de férias que se aproximava, mas Arthur estava distante, absorto em seus próprios pensamentos.

“Ei, Arthur, você tá bem?”, perguntou Levy, com uma preocupação no olhar. Arthur apenas sorriu, mas o sorriso não era o mesmo de sempre. Era forçado.

"Eu... eu tenho algo para contar a vocês", disse Arthur, finalmente, depois de uma pausa longa demais.

Matheus e Levy se entreolharam, trocando um olhar desconfiado. Havia algo no ar, algo que não podiam entender. Arthur, sempre tão espontâneo e cheio de vida, agora parecia outro. A inquietação que emanava dele era clara.

“Eu vou me mudar, pessoal. É para um outro estado... uma nova vida.” A notícia caiu como uma bomba, abrupta e inesperada.

Por um momento, ninguém disse nada. O silêncio tomou conta da praça, quebrado apenas pelo som distante de algum carro passando na rua. Levy foi o primeiro a reagir, seus olhos se estreitando com incredulidade.

"Mas... mas você vai sozinho? Por que a gente não sabia de nada disso? Você está nos deixando assim, sem mais nem menos?"

Arthur não sabia o que responder. As palavras estavam presas em sua garganta. Ele havia hesitado muito para tomar essa decisão, mas sabia que era o momento. Sabia que seus amigos iam entender, mas ainda assim, o medo de perder a conexão que sempre tiveram o consumia.

Matheus, que até então estava em silêncio, se levantou e caminhou até Arthur. Sem dizer nada, deu-lhe um abraço apertado. Era um gesto simples, mas carregado de significados.

“Eu sabia que alguma coisa estava acontecendo. Mas se é o que você precisa, vamos torcer para que seja o melhor para você, Arthur”, disse Matheus, com a voz um pouco trêmula.

Levy, ainda com os olhos um pouco marejados, se aproximou também. “Você sabe que vai fazer falta, né? Você sempre foi a nossa base, Arthur. Não vai ser a mesma coisa sem você aqui.”

Os três ficaram ali por um longo tempo, em silêncio, apenas na companhia um do outro. Era difícil acreditar que aquilo estava acontecendo. O que parecia ser uma tarde como qualquer outra agora estava carregado de despedida. Eles haviam sido inseparáveis desde a infância, dividindo risos, segredos e sonhos. Mas a vida, como sempre, seguia seu curso, e agora Arthur tinha que seguir o dele, por mais difícil que fosse.

A despedida, no entanto, não foi marcada por lágrimas. Havia uma aceitação silenciosa no ar, uma compreensão de que a vida de cada um tomaria rumos diferentes, mas que o laço que os unia jamais seria quebrado. Eles se abraçaram uma última vez, como se o tempo tivesse parado para que esse momento fosse eternizado.

“Quando a gente se encontrar de novo, vai ser como se nada tivesse mudado”, disse Arthur, com um sorriso nostálgico.

E, assim, eles se separaram naquela tarde quente de verão, com o coração apertado, mas com a certeza de que a amizade, como a verdadeira amizade, sempre encontra uma maneira de resistir ao tempo e à distância.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025
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