O Último Casamento
Esperei por tanto tempo, com um sonho simples, porém profundo: ser seu esposo. O que era meu, e ao mesmo tempo nosso, parecia tão claro. Nós, juntos, como sempre idealizamos nas conversas tímidas e nos olhares furtivos. Mas a vida, com suas voltas imprevisíveis, fez com que esse sonho escorregasse por entre os dedos, como água corrente que se perde no vasto rio do destino.
Os anos passaram, e meu coração, ainda preso naquele desejo não realizado, viu outras portas se abrirem para você. Cada passo seu, uma distância que aumentava a saudade do que poderia ter sido. E naquele dia, tão frio e chuvoso, eu sabia: o destino tinha me roubado mais do que o meu lugar ao seu lado; ele tinha me arrancado a chance de viver o nosso amor.
Cheguei até você, sem ser convidado, movido por uma dor que ainda insistia em me acompanhar. Não era a minha festa, não era meu lugar, mas eu não consegui ficar distante. Fui até a porta, de onde podia ver, sem ser visto, o momento que deveria ter sido meu. E ali estava você, radiante, se entregando aos braços de outro, enquanto eu, com o coração apertado, assistia da sombra da porta.
E o pior de tudo não foi ver seu sorriso iluminado, mas perceber que o sorriso dele, o meu melhor amigo, refletia um espelho quebrado do meu próprio desejo. Como ele podia ser o escolhido? Como ele, com sua simplicidade e seu jeito, tinha tomado o meu lugar? Era o último casamento, a última chance de ver tudo o que eu desejei escapar como poeira pelo vento.
Mas, mesmo naquele momento de dor e perda, algo dentro de mim começou a se acender. O amor não desaparece assim, não é em um gesto único que se apaga. Ele persiste, mesmo na saudade, mesmo no abandono. Porque o que a vida me roubou com uma mão, ela não pode me tirar com a outra. E enquanto eu olhava você, com o brilho nos olhos que nunca deixei de admirar, entendia que talvez o amor não tenha fim – apenas caminhos diferentes.
À medida que a cerimônia avançava, eu me vi preso em uma prisão de sentimentos contraditórios. O amor que eu guardava por você era uma chama que se apagava a cada passo seu para o altar, mas ao mesmo tempo, havia uma admiração silenciosa pela felicidade que agora preenchia sua vida. Não conseguia deixar de pensar no que poderia ter sido, mas, ao mesmo tempo, sentia uma estranha paz ao ver você tão completa.
Na saída da igreja, a chuva ainda caía, fina e constante, como se o céu, em algum tipo de solidariedade, chorasse comigo. As gotas de água pareciam me tocar com a mesma intensidade que a dor do meu coração, mas eu estava ali, de pé, sem poder tocar o que mais desejava. As pessoas se dispersavam ao redor, mas eu ainda estava ali, na beira da porta, longe do mundo deles, tão perto de você e, ao mesmo tempo, tão distante.
Naquela noite de núpcias, eu não era o seu convidado. Eu era apenas um espectador de algo que nunca poderia ser meu. Mas mesmo naquela solidão de ser o invisível na sua felicidade, eu sabia que o amor verdadeiro nunca se apaga. Ele se adapta, ele se transforma, e se um dia, por acaso, nossos destinos se cruzarem novamente, o amor que você nunca soube que eu tinha por você ainda estará lá, esperando, paciente, como sempre esteve.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025
Alterado em 04/01/2025