A Dança das Flores
No coração de um pequeno vilarejo, havia um jardim onde o amor encontrava abrigo. Ali, entre margaridas que se inclinavam com a brisa e borboletas que pintavam o ar, Helena costumava passar suas tardes. Ela sempre acreditou que as flores dançavam para aqueles que sabiam observar, e naquele lugar, sentia-se parte de algo maior, como se as pétalas compreendessem seus próprios anseios.
Foi numa tarde dourada, quando o sol tingia o horizonte com um tom de despedida, que Henrique apareceu. Ele trazia consigo um buquê de lírios brancos, uma oferta que parecia singela, mas que carregava um peso silencioso. Helena o viu ao longe, parado no portão do jardim, o olhar perdido entre as cores. Quando ele se aproximou, seus gestos e olhares construíram uma conversa que dispensava palavras.
Ela o guiou pelo labirinto de flores, cada uma parecendo contar uma história. Enquanto caminhavam, Helena falou de sua paixão por aquele lugar, com uma voz doce que se misturava ao sussurrar das folhas.
— Este jardim é como um refúgio para mim. Cada flor tem algo a dizer, se soubermos ouvir.
Henrique assentiu, o olhar fixo nas árvores ao longe.
— Os lírios... — disse ele, quase num sussurro —, eram para alguém que eu não consegui esquecer.
Sua voz era suave, mas nela havia um peso, uma dor escondida entre as palavras. Helena sentiu que ele carregava algo que não estava pronto para compartilhar completamente.
— O jardim tem esse dom, não acha? De guardar memórias... — ela respondeu, tentando tocar a melancolia que pairava entre eles.
A cada passo, o vento parecia entrelaçar os fios invisíveis de suas histórias. O sol, agora mais baixo, projetava sombras longas, criando um palco onde suas presenças se tornavam protagonistas de algo inexplicável. Quando Henrique finalmente se despediu, deixando o buquê aos pés de uma roseira branca, Helena sentiu algo mudar dentro de si.
Não era tristeza, mas uma melancolia doce, como uma melodia que termina antes do esperado. Ela o viu partir, sabendo que, mesmo que seus caminhos não se cruzassem outra vez, aquele momento ficaria para sempre gravado entre as pétalas daquele jardim encantado.
Enquanto observava os lírios deixados para trás, murmurou para si mesma:
— O amor é como a dança das flores: ora intenso e cheio de cores, ora silencioso e à mercê do vento. E, mesmo quando parece ter acabado, deixa um perfume que nunca desaparece.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 04/01/2025