O Valentão e o Padre Caipira
Num vilarejo distante,
Onde a moda era brigar,
Tinha um sujeito arrogante,
Que só sabia se exaltar.
Valentão de corpo forte,
Se achava um tipo de sorte,
Mas foi de azar que ele veio provar.
Seu nome era Zé Bravura,
Tinha fama de durão,
Por onde passava, jurava,
"Sou o rei deste sertão!"
Mas na arte do amor,
Foi vencido pela dor,
Por um caipira de calção.
Na praça veio a notícia,
Que ninguém pôde evitar:
A mulher do valentão
Com outro foi se casar.
E quem era o sortudo?
Um sujeito miúdo,
De chapéu e sotaque pra combinar.
Era o João, o Caipira,
Conhecido por rezar,
Um caboclo bem simplório,
Que gostava de cantar.
Vestido como padre,
Levou a mulher sem alarde,
E o valentão ficou a chorar.
João chegou na cidade,
Com um jeito sossegado,
Falava de caridade,
E um amor bem fundamentado.
A mulher do valentão,
Cansada de confusão,
Achou no João o seu cuidado.
Zé, ao ouvir a fofoca,
Soltou logo o seu facão,
“Esse padre de roça
Vai ter fim na minha mão!”
Mas ao chegar na capela,
Viu João com a donzela,
E parou de tanta emoção.
João falou bem tranquilo,
“Deixe a raiva no lugar,
Pois o amor não tem dono,
Ele sabe onde pousar.”
E enquanto Zé se enfurecia,
A mulher já respondia:
“Cansei de tanto apanhar!”
Zé então pensou consigo,
“Será que errei demais?”
Foi quando João apontou,
“Homem, mude os seus ais!
Brigar nunca fez sentido,
Viva o amor sem castigo,
E busque dias de paz!”
O valentão, constrangido,
Baixou logo a sua voz,
Pensou em toda a vida,
Que passou dando nós.
E vendo que João sorria,
Pensou: “Deixo essa briga,
Pois sozinho fiquei pior.”
João e a moça fugiram,
De mãos dadas a correr,
Foram longe da cidade,
Para nova vida tecer.
E Zé ficou no bar,
Tentando a dor afogar,
Jurando nunca mais perder.
Passou-se um bom tempo,
E o valentão virou pastor,
Trocou a força dos braços
Pelo peso de um louvor.
Dizia a quem escutava:
“Quem briga só desmorona,
O que vence é o amor!”
Enquanto isso, João e a moça
Lá na roça foram morar,
Tiveram filhos e alegria
Que nada pôde derrubar.
E nas festas do sertão,
Cantavam com emoção,
Fazendo o povo dançar.
Moral desta cantoria,
Preste atenção, meu irmão:
Não é força ou valentia
Que conquista o coração.
Às vezes, um caipira,
Com jeitinho e boa mira,
Pode calar até o mais grandão!
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 09/01/2025