Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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A Última Fotografia
O disparo ecoou pela noite abafada, cortando o silêncio como uma lâmina invisível. No beco estreito, iluminado apenas pelo reflexo trêmulo de um poste quebrado, um corpo tombava lentamente, como se ainda relutasse em aceitar o destino. A câmera fotográfica deslizou dos dedos rígidos, estalando contra o asfalto úmido antes de parar ao lado da poça escura que se alastrava.  

O repórter policial Júlio Almeida sabia que sua profissão era perigosa, mas sempre acreditara que a lente de sua câmera o protegia. Ele capturava crimes, não os cometia. Porém, naquela noite, ao seguir uma pista sobre corrupção policial, cruzara uma linha invisível. O que ele viu através da objetiva selou seu destino.  

No cartão de memória, a última fotografia registrava três homens de terno escuro ao lado de um cadáver ensanguentado. Um deles segurava uma pistola, e Júlio reconheceu o distintivo reluzindo sob a luz fria. Polícias e assassinos – naquela noite, eram a mesma coisa.  

O assassino recolheu a câmera com calma, examinando a imagem antes de esmagar o cartão de memória entre os dedos. Olhou para o corpo de Júlio com indiferença e deu as costas. Para ele, era apenas mais um jornalista que sabia demais.  

O beco voltou ao silêncio, mas a fotografia que nunca seria revelada já estava gravada na memória do repórter. Mesmo morto, Júlio Almeida ainda sabia a verdade. E verdades, por mais que tentem enterrá-las, sempre encontram um jeito de ressurgir.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/02/2025
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