A Canção que Weldson Gostava
O rádio do carro tocava baixo quando a polícia chegou à cena do crime. Era um modelo antigo, provavelmente um dos poucos que ainda rodavam naquela parte esquecida da cidade. A porta do motorista estava entreaberta, e o corpo caído no asfalto ainda segurava um maço de cigarros amassado.
O detetive Ramos se aproximou com cautela. O rosto da vítima estava sereno, como se tivesse aceitado o destino antes mesmo do disparo. O sangue escorria lentamente pelo meio-fio, misturando-se à chuva da madrugada. O rádio continuava tocando, repetindo o refrão de uma velha canção brega que falava sobre amores perdidos e noites vazias.
— Que música é essa? — perguntou o jovem policial ao lado de Ramos.
O detetive suspirou.
— Essa era a canção que Weldson gostava.
O novato franziu a testa.
— O senhor conhecia a vítima?
Ramos olhou para o corpo mais uma vez antes de responder:
— Conhecia. Há muitos anos. Antes dele cruzar a linha.
Weldson já fora um policial como Ramos, bom no que fazia, mas fraco demais para resistir às tentações do dinheiro fácil. O crime o engoliu aos poucos, e quando tentou sair, já era tarde. O submundo não perdoa traições.
O detetive observou o rádio tocar os últimos acordes e, com um gesto silencioso, desligou o som. A canção que Weldson gostava não tocaria mais.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/02/2025
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