O Casamento da Vizinha
Lá pros lados da Fazenda Santa Quitéria, a maior novidade do ano era o casamento da Ritinha, a vizinha. Não que ela fosse moça de poucos pretendentes, mas era exigente que só! Já tinha dispensado vaqueiro, lavrador, comerciante e até um advogado que passou um tempo pela região. Quando anunciaram que finalmente ia se casar, ninguém acreditou.
— Com quem será? — perguntavam as comadres.
— Com o Zeca Lambão! — responderam.
Aí sim ninguém botou fé. O Zeca era boa pessoa, mas tinha fama de lerdo. Andava com uma calma que dava tempo de plantar milho, colher e moer pra fazer pamonha antes dele terminar uma conversa. Diziam que até pra pensar, ele pensava devagar.
No dia do casório, a cidadezinha parecia festa de rodeio. O salão comunitário tava decorado com bandeirolas e flores colhidas no quintal das vizinhas. A sanfona do Seu Chico já aquecia, e as quitandas da Dona Lourdes enchiam as mesas.
A noiva chegou linda, num vestido branco bordado pela tia Sebastiana. O Zeca, de terno emprestado do primo, suava mais que tampa de chaleira. O padre começou a cerimônia, e tudo ia bem até a hora do "aceita como esposo?".
A Ritinha respondeu rápido:
— Aceito!
Mas quando o padre perguntou pro Zeca, foi aquele silêncio. O povo se entreolhou.
— Zeca? — insistiu o padre.
O noivo piscou devagar, coçou a cabeça e, depois de um minuto de puro suspense, abriu a boca:
— Hã? O que foi, padre?
A Ritinha bufou.
— O senhor perguntou se você me aceita, home!
O Zeca pensou mais um pouco, olhou em volta, viu a multidão, a mesa cheia de comida, o sanfoneiro já com os dedos coçando pra tocar e, finalmente, disse:
— Ah... Aceito, sim!
O salão explodiu em gritos e palmas. Nunca um casamento demorou tanto pra ser confirmado.
E foi assim que a Ritinha, depois de anos escolhendo, casou com o único homem que demorou mais pra responder do que ela pra decidir. Dizem que foi um casamento feliz, só que, até hoje, quando a Ritinha pergunta alguma coisa pro Zeca, ela já tem que preparar a janta antes de ouvir a resposta.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/02/2025