Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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O Catador de Latinhas
Elias tinha apenas 19 anos, mas carregava no olhar a maturidade de quem conhecia a vida pelas esquinas. Suas manhãs começavam antes do sol, empurrando um carrinho improvisado pelas ruas do centro da cidade grande. Elias era catador de latinhas, um ofício que lhe garantia o suficiente para sobreviver e, em dias de sorte, ajudar sua mãe com os remédios.

Num final de tarde, ao dobrar uma esquina próxima a um edifício luxuoso, viu Kemmilly pela primeira vez. Ela descia de um carro preto com motorista, carregando um ar de distância e uma beleza que parecia inalcançável. Kemmilly era uma milionária de 28 anos, dona de uma rede de boutiques famosas. Mas, sob o brilho das joias e a aparente perfeição de sua vida, escondia uma solidão que a acompanhava desde a infância.

Os encontros entre os dois eram acidentais. Elias recolhia latinhas perto do edifício de Kemmilly, e ela o observava da sacada. Curiosa, um dia desceu e perguntou:
— Qual é o seu nome?

Elias estranhou a aproximação, mas respondeu com educação. Aos poucos, conversas ocasionais se tornaram frequentes. Kemmilly descobriu que Elias tinha sonhos engavetados: queria estudar, aprender um ofício diferente, mas nunca tivera oportunidade. Ele, por sua vez, descobriu que por trás da aparente superioridade de Kemmilly existia uma mulher que desejava ser vista pelo que era, não pelo que possuía.

Os dois formaram um vínculo improvável. Kemmilly começou a ajudar Elias discretamente, inscrevendo-o em um curso de mecânica e emprestando livros para que ele pudesse estudar. Ele, em troca, lhe ensinava a ver beleza em coisas simples: o brilho das ruas após a chuva, o calor de um café compartilhado em uma esquina.

As fofocas no edifício logo se espalharam. Amigos de Kemmilly tentaram alertá-la:
— Ele é só um catador de latinhas! O que você está fazendo?
Mas ela não dava ouvidos. Para Kemmilly, Elias era mais do que sua condição. Ele era coragem, bondade e esperança em estado bruto.

Um dia, Elias convidou Kemmilly para conhecer a comunidade onde morava. Ela aceitou, mesmo sabendo que seria um choque para sua realidade. Entre ruas estreitas e casas improvisadas, Kemmilly viu o quanto Elias era respeitado. Ele ajudava vizinhos, organizava mutirões e sonhava com um futuro melhor para todos.

A convivência transformou ambos. Elias percebeu que podia aspirar a muito mais, e Kemmilly encontrou uma forma de preencher o vazio que carregava: investindo em projetos sociais que mudassem vidas, começando pela de Elias.

O amor entre os dois cresceu em silêncio, desafiando expectativas e preconceitos. Kemmilly abriu uma pequena oficina para Elias no centro, onde ele podia exercer o que aprendera. Ela visitava o lugar todos os dias, com um sorriso que misturava orgulho e admiração.

Elias não era mais apenas um catador de latinhas. Era um jovem que provou que o destino pode mudar quando se cruza com pessoas dispostas a acreditar. E Kemmilly, antes presa a uma bolha de luxo e isolamento, encontrou em Elias o que dinheiro nenhum podia comprar: um amor verdadeiro, simples e transformador.

Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 03/02/2025
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