Era um sonho. Um sonho que dançava em minha mente todas as noites e iluminava meus dias com expectativa. Planejei o quarto, pintei as paredes de um azul sereno, comprei bichinhos de pelúcia e até um móbile que rodopiava ao som de uma melodia suave. Cada detalhe carregava um pedaço do meu coração.

Mas o destino, em sua silenciosa soberania, decidiu que meu filho não nasceria.

Aquela ausência chegou como uma tempestade inesperada. O silêncio do ultrassom, o olhar cuidadoso do médico, as palavras que tentavam consolar mas que nunca alcançavam o fundo da dor. Era como se o mundo tivesse parado de girar por um instante e, ao voltar, estivesse levemente desalinhado, nunca mais o mesmo.

Fiquei perdida em um mar de perguntas sem respostas. Por que? O que fiz de errado? Mas, no fundo, sabia que não há culpados, apenas mistérios que não somos capazes de compreender.

Mesmo assim, o amor não desapareceu. Ele permanece ali, pulsando, crescendo dentro de mim como se aquele pequeno ser tivesse deixado uma semente. Não posso abraçar meu filho, mas o carrego comigo em cada pensamento, em cada lágrima, em cada sorriso que decido dar mesmo quando a dor aperta o peito.

Descobri que ele nasceu, sim. Não em um berço, não neste mundo que tanto sonhei apresentar a ele, mas nasceu no lugar mais seguro que poderia existir: no meu coração. Ali, ele é eterno.

E, agora, quando olho para o céu, encontro um consolo. Talvez ele esteja brincando entre as estrelas, rindo ao som de ventos celestiais, amparado por uma paz que eu ainda não posso entender.

A vida segue, e com ela carrego o amor que nasceu mesmo sem um choro no quarto ou um abraço pequeno em meus braços. Meu filho não nasceu aqui, mas nasceu para sempre dentro de mim.