Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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Passos de um Covarde
Ele sempre soube correr. Desde menino, quando as broncas vinham, as surras estalavam no lombo magro, e os gritos ecoavam pela casa de madeira, ele aprendia a fugir. Primeiro, escondendo-se embaixo da cama, depois, atrás do paiol, mais tarde, nos becos escuros da cidade grande. Fugir era um talento que cultivava com afinco, como se cada passo largo e apressado o afastasse de qualquer responsabilidade.

Na adolescência, evitava brigas. Não por medo da dor, mas por receio da consequência. Aprendeu a escorregar entre os conflitos, a sorrir e mentir para sair ileso. Quando amou pela primeira vez, fugiu da entrega. O medo de se perder no outro era maior que a paixão que sentia. Sumiu sem deixar rastros, como fazia desde criança.

Na vida adulta, aperfeiçoou sua arte. Fugiu de empregos difíceis, de compromissos sérios, de promessas feitas no calor da emoção. Fugiu quando soube que ia ser pai, quando as contas se empilharam, quando a velhice dos pais exigia cuidados. Sempre arranjava desculpas, sempre um novo lugar para se esconder.

Até que, um dia, a vida cansou de esperá-lo. Foi então que percebeu que, por tanto correr, não havia construído laços, não havia histórias a contar, nem ninguém que se importasse com sua ausência. Estava só. E pela primeira vez, não havia para onde fugir.

Foi quando entendeu que a verdadeira coragem nunca esteve em se esquivar das dores, mas em enfrentá-las. Só que já era tarde demais para voltar atrás. Porque os passos de um covarde nunca deixam pegadas que possam ser seguidas de volta para casa.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 07/02/2025
Alterado em 09/02/2025
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