Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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O bandido que salvou o delegado
A cidade de Santo Amaro do Sul era um daqueles lugares onde todo mundo sabia da vida de todo mundo. Com suas ruas de terra batida e comércio modesto, a tranquilidade era apenas aparente. No fundo, havia segredos que se escondiam entre as esquinas e nos sussurros dos botequins.

O delegado Joaquim Farias conhecia bem o cheiro da pólvora e da mentira. Homem velho, de rosto marcado pelo tempo e pelo dever, governava a pequena delegacia com a firmeza de quem já enfrentou o pior. Mas naquela noite, algo diferente estava prestes a acontecer.

Tudo começou quando um grupo de homens encapuzados invadiu o banco da cidade. A ação foi rápida e brutal. Dois seguranças foram mortos, e o gerente, obrigado a abrir o cofre, levou uma coronhada que o fez apagar no chão frio.

O telefone da delegacia tocou, e Joaquim, ao atender, ouviu o que menos queria naquela altura da vida:
— Temos um problema grande, delegado. Melhor vir logo.

Sem pensar duas vezes, chamou sua equipe, mas no fundo sabia que aqueles homens estavam bem armados e organizados. Se quisessem, podiam varrer a cidade antes que a polícia estadual chegasse.

Mas uma voz inesperada surgiu na cela da delegacia.

— Eu posso te ajudar.

O homem atrás das grades era Vicente “Corta-Vento”, um ladrão conhecido da região. Nunca foi um assassino, mas sua ficha era suja o bastante para Joaquim não confiar nem um pouco nele.

— Me ajudar? Não me faça rir, Vicente.

— Esses caras não são daqui. São bandidos grandes. Você e seus homens vão morrer se forem sem informação.

Joaquim hesitou. Mas sabia que, se fosse um confronto direto, não teria chance.

— O que você quer em troca?

— Minha liberdade. E um carro pronto pra me tirar daqui depois.

O delegado respirou fundo. Sabia que fazer acordo com bandido era o tipo de coisa que podia manchar sua honra. Mas a cidade estava em perigo.

— Se me ferrar, Vicente, eu mesmo acabo contigo.

O ladrão sorriu.

— Eu não sou um assassino, delegado. Mas esses caras são.

Vicente explicou que o grupo era de fora, especializado em roubos a banco, e que fugiriam pela Estrada Velha, onde um helicóptero os esperava. O único jeito de pegá-los era emboscá-los antes da fuga.

Com base na informação, Joaquim e seus homens montaram um bloqueio improvisado na estrada. Quando os assaltantes passaram em alta velocidade, uma chuva de balas os recebeu. O confronto foi brutal, mas a surpresa deu vantagem à polícia. Dois foram mortos, três capturados.

O chefe do grupo tentou escapar, mas Vicente, que estava ao lado do delegado, puxou uma arma de um dos policiais caídos e atirou certeiro.

No fim, o banco estava salvo, os assaltantes presos ou mortos, e Vicente… bem, Vicente desapareceu antes que Joaquim pudesse cumprir sua parte no trato.

Dias depois, o delegado encontrou um bilhete preso à porta da delegacia:

"Dívida paga. Agora estamos quites."

Joaquim sorriu. No fim das contas, o bem e o mal às vezes se confundem.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 07/02/2025
Alterado em 09/02/2025
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