Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
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Meu Filho Não Tem Culpa
Quando Dona Nena entrou na escola com aquele olhar de trovão, até a diretora engoliu seco. Era sempre assim: bastava alguém chamar sua atenção para alguma travessura do Juninho, que ela já chegava armada até os dentes – de argumentos, claro.

— Dona Nena, seu filho… — começou a professora, com cautela.

— Não tem culpa! — interrompeu a mãe, com a convicção de quem está defendendo um santo injustiçado.

A professora respirou fundo.

— Mas veja bem, ele…

— Aposto que foi outro que começou! Meu Juninho é um menino de ouro!

A turma da terceira série podia até questionar essa afirmação, já que o Juninho, conhecido como “Furacão de Gente”, era o tipo de criança que deixava um rastro de confusão por onde passava.

Na semana passada, por exemplo, decidiram fazer um experimento de ciências sobre vulcões. O Juninho, com sua criatividade incontrolável, achou que a miniatura de Etna feita de papel machê merecia um toque especial. Então, adicionou bicarbonato, vinagre e – ninguém sabe como – uma garrafa de refrigerante explodindo. O resultado? Lava artificial no teto da sala e uma professora precisando de um chá de camomila.

Mas segundo Dona Nena, o menino não tinha culpa. Quem mandou fazer um experimento tão tentador?

Na Páscoa, durante a caça aos ovos, o Juninho percebeu que seria mais eficiente se coletasse todos de uma vez e distribuísse de acordo com o que ele achava justo. Uma atitude questionável, claro, mas, na visão da mãe, isso só demonstrava talento para liderança.

— Ele só queria organizar a brincadeira! — disse Dona Nena, indignada, enquanto a professora explicava que várias crianças tinham saído chorando.

E assim seguia a vida do Juninho: aprontando, inovando, transformando qualquer evento em uma aventura – e sempre sendo absolvido pela mãe antes mesmo do julgamento começar.

— Ele colocou cola na cadeira da diretora! — tentaram reclamar outro dia.

— Mas com certeza não foi por mal! Devia estar testando a resistência do material!

E assim, o pequeno furacão crescia sob o manto protetor da mãe, que jamais admitiria que ele tivesse feito algo de errado de propósito. Para Dona Nena, o mundo podia acusar, reclamar, gritar… mas ela sabia: seu filho não tinha culpa.

Bom, pelo menos até o dia em que ele trancou a própria mãe no banheiro por “curiosidade científica”. Aí a história mudou um pouco.

Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 08/02/2025
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