No Fundo do Quintal
No barraco ao pé do morro,
ela lava, ela cuida, ela cala.
Ele chega com o cheiro do bar,
e o resto da noite é murro e fala.
Na parede, o relógio parou.
Na alma, a paz não se instala.
Ela esconde a marca na blusa,
mas não consegue esconder do olhar.
Até a vizinha já sabe,
mas diz: “É coisa de lar…”
O grito se perde na noite
como folha ao vento do mar.
A criança assiste em silêncio,
com o medo no fundo do olhar.
Cresce achando normal
ver a mãe sangrar.
A violência é uma lição
que o tempo vai ensinar.
Ela já foi na igreja,
já tentou rezar e fugir.
Mas quando ameaçou sair,
ele jurou fazê-la sumir.
E o medo, seu velho carrasco,
não deixa ela partir.
O mundo gira lá fora,
mas dentro a vida parou.
Não há rede de apoio,
só o que restou do que restou.
E a vizinhança dorme tranquila,
enquanto ela chora e levou.
Ainda sonha com mudança,
mas não sabe como lutar.
Talvez um dia acorde
e consiga recomeçar.
Mas por enquanto vive ali,
no fundo do quintal, a esperar.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 05/05/2025
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