Na Delegacia Vazia
Ela chegou tremendo às três,
com a roupa suja de sangue e vergonha.
O policial nem levantou o olhar:
“Tem certeza? Não quer voltar pra casa?”
E ela engoliu o choro de novo,
com a alma cheia de brasa.
Ela voltou. Voltou pro mesmo inferno.
Porque a lei falha onde falta atenção.
E a justiça é uma porta trancada,
sem chave, sem mão, sem coração.
Ali não encontrou escuta,
só descaso e omissão.
No boletim, faltaram palavras.
Faltou empatia e respeito.
Ela era só mais um número
na fila de um velho defeito.
E o sistema que devia acolher
só ampliou o seu despeito.
Ela pensou em desistir,
em fingir que estava bem.
Mas sabia que a próxima vez
poderia ser o fim também.
E mesmo com medo e vergonha,
voltou pra tentar mais além.
Um outro agente atendeu,
com um olhar mais humano.
Ofereceu-lhe ajuda e abrigo,
rompeu o primeiro pano.
E a mulher que mal falava
ganhou voz em novo plano.
Na delegacia vazia,
há silêncio e descaso, sim.
Mas também pode haver mudança
quando se começa por um fim.
E a mulher que ousa voltar
merece justiça, enfim.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 05/05/2025
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