A Menina da Esquina
Tinha treze, talvez catorze,
e um corpo que ninguém respeitou.
Homem velho, carro escuro,
e a infância que ele roubou.
Na calçada ficou o lacinho,
no peito, o trauma ficou.
Disseram que a culpa era dela,
que a roupa, que o lugar, que o andar.
Mas quem violentou não foi ela,
foi quem fingiu não olhar.
A cidade desviou o rosto,
sem coragem pra encarar.
Ela andava com boneca
dias antes de acontecer.
Agora carrega silêncio
e a vergonha de não entender
por que o mundo é tão cruel
com quem só queria viver.
Foi levada ao abrigo,
mas ninguém ouviu de fato.
Só contaram os boletins
e esconderam o retrato.
E a menina virou número
na folha de um triste ato.
Os dias passaram lentos,
as cicatrizes ainda ardem.
A justiça foi demorada,
e os traumas, esses não tardam.
Mas ela quis continuar,
mesmo com medo nas tardes.
Hoje estuda, lê, sonha,
mesmo que o mundo pese assim.
Porque toda menina merece
respeito do começo ao fim.
E que nunca mais a esquina
roube o que há de mais jardim.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 05/05/2025
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