O Retrato da Professora
Ele se chamava Tomás, tinha apenas oito anos e acreditava que o mundo inteiro cabia dentro da sua mochila azul. Gostava de desenhar, principalmente com lápis de cor, e sempre carregava um caderno surrado onde desenhava tudo o que via: passarinhos no fio, o cachorrinho da vizinha, os postes da rua, as nuvens parecendo algodão.
Mas um dia, ao entrar na sala do 3º ano B, viu algo que nunca tinha desenhado antes: a professora Ana Clara.
Ela tinha os cabelos castanhos enroladinhos nas pontas, o sorriso mais bonito do mundo e usava vestidos floridos que pareciam sair direto das páginas de um livro de contos de fada. Quando falava, sua voz era doce como bala de morango, e quando explicava matemática, até os números pareciam gostar mais de aparecer.
Tomás nunca tinha sentido aquilo antes. Um friozinho no peito, vontade de chegar cedo só pra vê-la entrando na sala, e aquele cuidado bobo de caprichar na letra só porque "a professora vai ver". Durante a aula de artes, quando todos desenhavam árvores ou casas, Tomás desenhava o retrato da professora.
Fazia com carinho: os olhos castanhos grandes, os brincos pequenos em forma de flor, o jeito como segurava o giz. E sempre que ela passava perto, ele escondia o desenho, com vergonha. Até que um dia, Ana Clara parou ao seu lado e perguntou, com um sorriso:
— O que você está desenhando, Tomás?
Ele gaguejou, vermelho como o estojo:
— É só… é só um desenho. Não tá pronto ainda.
Ela se abaixou, viu o retrato e sorriu de um jeito tão bonito que o coração de Tomás quis sair pulando pelo chão da sala.
— Ficou lindo! Sou eu, não é?
Ele balançou a cabeça, tímido:
— É… mas no desenho você tá mais feia do que é de verdade.
Ela riu.
— Então vou me sentir honrada. Sabe, Tomás, quando a gente desenha alguém, é porque tem carinho por essa pessoa. E eu fico feliz que você goste de mim assim.
Naquele dia, Tomás foi pra casa com o coração leve. Não contou a ninguém, mas naquela noite sonhou com a professora sorrindo, cercada de lápis coloridos voando como borboletas.
Passaram-se os meses, o ano letivo chegou ao fim. Na última aula, ele entregou a ela um envelope com o retrato finalizado — agora com as cores certas, os detalhes do vestido, e o nome em letras grandes: "A Melhor Professora do Mundo."
Ela olhou o desenho com os olhos brilhando. Abaixou-se e lhe deu um abraço demorado. Foi o abraço mais apertado que ele já recebeu na vida.
— Obrigada, meu pequeno artista. Eu nunca vou esquecer de você.
E ele, com um sorriso meio bobo, respondeu:
— Eu também nunca vou esquecer de você, professora.
Anos depois, já adulto, Tomás guardava o retrato amarelado numa caixa de memórias. Toda vez que o abria, sentia o mesmo friozinho no peito. Não era amor de criança qualquer. Era aquele tipo de sentimento puro que a gente só sente uma vez — quando o coração ainda cabe inteiro dentro de um desenho feito a lápis de cor.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 05/05/2025