Confissões ao vento
O mais bonito retrato é o da própria natureza, pois, Deus com humildade fez sem tintas a sua beleza.
Capa Textos E-books Fotos Perfil Contato
Textos
A Viagem do Poeta Morto
Numa noite enluarada,
Sem trovão, sem vendaval,
Morreu um velho poeta
De um lugar bem rural.
Foi-se sem fazer barulho,
Com sorriso angelical.

Na cidade pequenina,
Todo mundo comentava:
— Foi-se o mestre dos cordéis,
Que tanto amor espalhava!
Quem diria que esse homem
Nem pra morte reclamava?

Foi velado no terreiro,
Com sanfona e oração,
E até a lua curiosa
Desceu perto do caixão.
Parecia que chorava
Lá de cima, em solidão.

Mas aí começa a história
Que o povo não acreditou:
Dizem que o corpo do mestre
Do caixão mesmo saltou!
E numa luz tão brilhante,
Ao céu alto ele voou.

Na estrada feita de nuvem,
De versos e de luar,
O poeta foi subindo
Sem querer se apressar.
Parou até pra escrever
Um cordel no ar.

São Pedro lá no portão
O recebeu com respeito:
— És poeta verdadeiro,
Teu lugar aqui é perfeito!
Mas o mestre respondeu:
— Deixa eu ver um outro jeito...

— Eu queria, se possível,
Antes do céu repousar,
Descer lá no inferno escuro,
E com o diabo conversar.
Talvez ele precise
De um poema pra escutar.

São Pedro coçou a barba:
— Isso é coisa perigosa!
Mas se é pra levar poesia,
A missão é gloriosa.
Leve um anjo de escolta,
Pra não haver coisa espinhosa.

E o poeta desceu rindo
Num foguete de luar.
O inferno era abafado,
Um calor de sufocar.
Mas quando o mestre chegou,
Todo o fogo quis parar.

O diabo veio espantado,
— Quem és tu, com tanta luz?
O poeta disse calmo:
— Sou quem escreve e conduz
Verso pra alma sofrida,
Mesmo a que perdeu a cruz.

Recitou ali um cordel
Sobre perdão e bonança.
Um demônio chorou baixo,
Lembrando da esperança.
E o inferno ficou mudo,
Cheirando a flor de criança.

— Vai-te embora! — disse o diabo,
— Ou fico moço e perdoo!
— É pra isso que eu vim, mestre.
Verso puro é como ouro.
E deixou-lhe um livreto
Com capa de couro.

Depois subiu de repente,
Ao céu azul regressou.
Deus o abraçou sorrindo,
Com um beijo o coroou:
— Trouxe paz ao inferno,
O paraíso ganhou.

Hoje o poeta descansa
Na estrela mais brilhante.
De lá escreve cordéis
Com sua alma vibrante.
E quem lê, sente por dentro
Um calor reconfortante.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 05/05/2025
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
Comentários