A Mulher que Voou nas Estrelas
Num rincão bem escondido,
Onde o tempo anda devagar,
Morava uma mulher sonhante
Com vontade de amar.
Seu maior desejo na vida
Era um filho pra embalar.
Tinha o peito tão doído,
Por não poder conceber,
A ciência deu seu veredito:
“Não vai poder mais nascer.”
E ela com os olhos cheios
Chorava sem entender.
Chamava-se Dona Helena,
De voz doce e olhar fiel,
Contava as noites no tempo,
Conversava com o céu.
“Quem sabe Deus lá de cima,
Escuta do meu cordel…”
Plantava flores no campo,
Cuidava da terra e do chão,
Mas o ventre continuava
Silencioso como um vão.
E o sonho de ter criança
Batia forte no coração.
Mas numa noite tão clara,
Com a lua a iluminar,
Viu uma estrela cadente
No céu quieto a passar.
Fechou os olhos e orou:
“Senhor, venha me escutar!”
E dormiu naquela noite
Com o peito em paz, sereno,
Sonhou que tinha asas brancas
E um coração pequeno.
Voava por sobre nuvens
Num céu calmo, puro e pleno.
Chegou num jardim de estrelas,
Onde as almas vêm brincar,
Lá havia mil crianças
A sorrir, a lhe chamar.
Ela abriu os seus braços
E pôs-se a todas abraçar.
Cada estrela ali brilhava
Com o brilho de uma vida,
E no meio da constelação
Sua dor foi esquecida.
Descobriu que ser materna
É alma, não é ferida.
Desde então todas as noites
Ela sonha com o céu,
Escreve cartas às estrelas
Em papel e carretel.
E diz: “Sou mãe do infinito,
Meu colo é o cordel!”
No lugar de fraldas e leite,
Ela dá amor sem fim.
Nos orfanatos visita,
Canta versos de marfim.
E as crianças que ela encontra
Chamam: “Mamãe, vem pra mim!”
Hoje Helena é conhecida
Em toda vila e sertão,
Como a mulher das estrelas
Com amor no coração.
Não gerou dentro do corpo,
Mas gerou na imensidão.
Lucileide Flausino Barbosa
Enviado por Lucileide Flausino Barbosa em 06/05/2025